Um americano, amigo da família, perguntou, enquanto apreciava uma gravura que fiz representando a viagem de uma rãzinha, o que é este quadradinho preto no canto da gravura? Sem pensar respondi: -“The dark side of de moon”. 
Dizem que rãs e sapos ficam sempre no mesmo lugar.
Nas histórias infantis, porém, no lado escuro da lua tudo pode acontecer...

 

A viagem

Ana Maria de Niemeyer

 

Era uma vez uma rãzinha curiosa que morava numa lagoa.
    -Vou viajar, aqui a lua é escura, quero conhecer uma cidade – disse ela para a saparia.
A rã mais velha não gostou da ideia.
Mas não dá para segurar bichinhos curiosos.
Um belo dia, de tanto pular, a rãzinha chegou à beira do mar.
De salto, em salto, conseguiu entrar em um veleiro ancorado na praia.
Mal sabia ela que era um barco mágico, voador.
Voaram bem alto, passando por mares, campos e cidades.
De repente o barco deu uma rasante e a rãzinha despencou lá de cima, caiu na varanda de um prédio.
O menino que morava ali quis cuidar do bichinho, mas a mãe foi logo mandando:   -“Lugar de rã é no rio! ”.
O menino obedeceu.
Na beira do rio ele foi empurrando o bichinho com uma vara:  -“Boa sorte, cuidado no caminho”. Disse, preocupado com a rã.
A rã estranhou aquele rio cheio de sapatos velhos e espumas malcheirosas.
    -Que sujeira! - Coaxou, desconsolada.
Mas não teve jeito, foi nadando junto às margens poluídas, comendo mosquitos.
O rio era cheio de voltas, nunca acabava.
O tempo foi passando, passando...
Ela estava perdida.
De noite um vagalume falante deu uma dica: - Aproveite a lua cheia para achar sua casa!
O luar iluminou tudo.
Ela já estava na lagoa!
Mas seria o mesmo lugar?
Ela viu sua imagem refletida na lagoa.
Levou um susto. A imagem era de uma velha rã!
    -Cadê a velha rã? Perguntou às rãzinhas.
A saparia coaxou ao mesmo tempo:
   - A velha rã agora é você!    
                                                  ***