Cidades Invisíveis
Carolina Engler e Juliana Engler1
As cidades estão em contínua construção e transformação, são um projeto vivo do que seus habitantes desejam para si. Da mesma forma, as cidades que gravamos em nossa memória não param nunca de sofrer a ação do tempo e de nossa imaginação sobre elas. De certo, se essas duas esferas ficarem muito tempo sem se encontrar, não mais poderão se reconhecer: a cidade real e a cidade da memória...
Mas como pensar essa dupla ação do tempo sobre nossa cidade natal? Aquela que visitamos fisicamente todos os dias... Aquela com a qual contribuímos (ou deveríamos contribuir) com o projeto do que deveria vir a ser... Será que também dela nos distanciamos a ponto de não mais a reconhecer?
Quando contemplamos a cidade em que vivemos, ao mesmo tempo em que alguns marcos coincidem com a nossa cidade da memória, sentimos certa imprecisão, dúvidas, incertezas quanto ao reconhecimento... Por vezes até, acreditamos ser apenas uma cidade parecida...
Pensamos que é como se camadas da mesma cidade se sobrepusessem. Não para reafirmar, mas para confrontar, confundir, contrastar essas duas instâncias nas quais toda cidade existe: dentro e fora de nós.
Ao olhar com cuidado para esse palimpsesto que minha cidade se tornou, não podemos deixar de perceber a semelhança com As Cidades Invisíveis de Ítalo Calvino: “a cidade deixa de ser um conceito geográfico para se tornar o símbolo complexo e inesgotável da existência humana2”.
1 As irmãs e fotógrafas Carolina Engler e Juliana Engler são fundadoras do Ateliê Cromo, um espaço que transpira e inspira criatividade na cidade de Campinas. Com o objetivo de estimular e produzir um aprendizado mais completo na fotografia desenvolvem exposições, salões e eventos culturais. E-mail: carolina.engler@yahho.com.br.
2 Mainardi, D. Apresentação. In: CALVINO, Italo. As cidades invisíveis. Editora Companhia das Letras, 1990.