Revista Rua


Havia uma Canudos no "Pinheirinho" em São José dos Campos: Sentidos da ação policial no espaço urbano.
War of Canudos relived in Pinheirinho: meanings of police action in urban space.

Anderson de Carvalho Pereira

SD6 – Moradores das proximidades relatavam que os policiais estavam armados e classificaram a ação como um “massacre”. (...) Clima de guerra. Na semana passada, jornais de todo o País estamparam fotos impressionantes dos moradores do assentamento, que não se mostravam dispostos a deixar o local. (...) O MPF aponta erros na trajetória dos órgãos oficiais da cidade. Segundo nota, desde 2006 a União procura fazer a regularização fundiária do local, mas encontrou resistência das autoridades do município (Título: Clima de guerra na ocupação Pinheirinho. Moradores ao redor do assentamento Pinheirinho, em São José dos Campos, falam de “massacre” promovido pelos policiais. Por redação Carta Capital – publicado 22/2/2012 10:33, última modificação 22/1/2012, 18:51)
 
SD7 - Foi uma bofetada na democracia o Jornal Nacional levar ao ar a invenção absurda de que os moradores do Pinheirinho tenham sido obrigados por lideranças a ficarem ali no dia do despejo. Centenas de flagelados depuseram por escrito, assinaram o depoimento e nenhum relatou semelhante coisa. (...) O povo brasileiro, que em grande parte vive em condições pouco melhores do que aquela em que viviam os flagelados do Pinheirinho antes de virarem moradores de rua, está indefeso diante da sanha do capitalismo selvagem. (Título: JN culpa moradores por tragédia no Pinheirinho. 2/2/2012. HTTP://www.viomundo.com.br/denuncias/eduardo-guimaraes-jornal-nacional-culpa-moradores-por-tragedia-do-pinheirinho.html acesso em 7/5/2013)
 
Nas SD6 e SD7, indiciamos o processo de significação em meio às substituições de “um “massacre”” por “regularização fundiária do local”, na SD6; e, “centenas de flagelados”, que, por sua vez, resgata a memória discursiva sobre os “flagelados” do arraial de Canudos, em meio ao qual vem um arregimento de sentidos retroativos ao “flagelo da seca”, da migração, etc.
Mas, é na SD7, em “O povo brasileiro, que em grande parte vive em condições pouco melhores do que aquela em que viviam os flagelados do Pinheirinho antes de virarem moradores de rua” que aparecem jogos de sentido opacos sobre a relação com a memória da “luta pela terra”. Percebe-se que há uma “voz sem dono” (cf. COURTINE, 1982) em “o povo brasileiro” tal que é assegurado o sentido de que os moradores são “flagelados”. Soma-se a isto o domínio do discurso científico em “povo”, no caso, no campo semântico da Sociologia.
É possível interpretar então como tal uso incide na cilada imaginária em que a atualização dos domínios de memória disfarça as contradições para fazer crer no sujeito “povo” como origem do próprio discurso (cf. PÊCHEUX, 1993).
Na SD6, temos o embate com a legislação federal acerca do planejamento das cidades no trecho “moradores do assentamento” e “a regulação fundiária do local”. A respeito disto, acompanhemos como a Política Nacional de Habitação (Lei 11124/05; fonte: site do Ministério das Cidades. www.cidades.gov.br, acesso em 16/5/2013, p. 18) engloba em seus parâmetros de ação a questão fundiária e territorial. Segue: