Revista Rua


Saussure e o Sentimento: A Forma do Sentimento Lingüístico
(Saussure and the Feeling: the Form of the Linguistic Feeling)

Alessandro Chidichimo

Esta consideração implica o fato de que a língua estudada pelo lingüista não deve ser uma língua abstrata, ou o produto de uma análise empregando comparações a partir de línguas antigas, que ninguém fala para examinar as línguas atuais:
 
Cette morphologie-là est, au fond, détestable. Elle est directement contraire à notre  principe: elle ne s’appuie plus sur le sentiment de la langue. Et par conséquent, elle ne répond à aucun fait du langage
(ELG:195)
 
Com efeito, Saussure pensa que a língua que deve ser estudada é a língua empregada por todo mundo no dia-a-dia e não uma língua que ninguém fala mais.
O sentimento da língua oferece um ponto de vista constituído pelas relações entre formas que produzem o sistema língua. Somente sobre a base das formas presentes num estado de língua, numa região do sistema lingüístico estratificado e seccionado pelos diferentes atos de fala, que: la langue ne jugeant jamais que par les formes (ELG: 185). E por exemplo : a palavra helicóptero ou internet não está no estado de língua de Júlio César durante seu assassinato – seria verdadeiramente inacreditável se César dissesse: “Tu, quoque hélicoptère!” ou ainda “Tu, quoque internet!”. Sentimento, com as duas diferentes acepções postas em paralelo exige que limitemos o indivíduo tomado no ato de fala momentâneo. Com efeito, o falante saussuriano não tem a possibilidade de ter conhecimento de todas as relações do sistema lingüístico. De outro lado, para o sentimento da língua há um ponto de vista diverso, criado pelas relações entre formas que constituem o sistema língua e se organizam em diferentes regiões do sistema, há a limitação do sistema, das relações negativas e diferenciais da língua: la langue a le sentiment de leur [des éléments] sens logique, de leur ordre (SAUSSURE, 1907: 96, RI).
O ponto de encontro entre o sujeito e a língua em relação ao sentimento se verifica quando Saussure fala da realidade da língua. A realidade é sempre a mesma, mas há ainda dois pontos de vista diversos. Se nós consideramos a perspectiva do sujeito, a ontologia lingüística saussuriana parece marcada por uma positividade em virtude da noção de sentimento: Tout ce qui est dans le sentimentdes sujets parlant est phénomène réel(ELG: 185). Mas se estamos sob a ótica do sistema, então há ainda somente diferença, sem fenômeno positivo: Comme il n’y a aucune unité (de quelque ordre et de quelque nature qu’on imagine) qui repose sur autre chose que des