Memória e movimento no espaço da cidade: Para uma abordagem discursiva das ambiências urbanas


resumo resumo

Carolina Rodríguez-Alcalá



“decadência”, como são interpretados esses diferentes fatores de que é composta (pessoas que dormem nas calçadas ou nos bancos das praças; prédios “invadidos” por pessoas que não têm onde morar; homossexuais que à noite praticam sexo nas ruas, etc.)? Dito de outro modo, quais são os modos históricos de organização espacial e social percebidos como “deteriorados” e de que maneira eles interferem na configuração (“degradação”) física do espaço e nas normas de convivência, dando uma forma particular aos conflitos produzidos? Ou ainda: qual é o “denominador comum” que une a diversidade dos fatores presentes na produção do espaço analisado e suscita esse efeito global de “decadência” e “deterioração” na percepção do mesmo?

É para responder a essas questões que levantamos a hipótese anunciada no início, que desenvolvemos a seguir, logo após a apresentação do corpus que foi analisado.

 

3.2. O corpus

O corpus de nossa pesquisa esteve constituído por um conjunto de entrevistas a pessoas que ocupam o espaço público estudado, realizadas por Okamura (2004), bem como por imagens de vídeo sobre o mesmo[1]. As entrevistas foram do tipo aberto; foi solicitado aos entrevistados que falassem sobre sua vida e, mais especificamente, sobre seu bairro, expondo suas impressões sobre o mesmo: o que achavam bonito, feio, importante, adequado, impróprio, etc.; foi solicitado também, durante o percurso pelo bairro realizado em companhia da entrevistadora, que eles fizessem o registro fotográfico daquilo que consideravam importante. Foram realizadas ao todo 15 entrevistas, procurando contemplar o diversificado espectro social da população que mora e/ou circula no espaço em questão, conforme foi exposto; as pessoas selecionadas segundo esse critério foram as seguintes[2]:

  • líder comunitária
  • presidente da associação local
  • síndico do prédio
  • executivo
  • advogado
  • aposentada
  • proprietário de restaurante
  • segurança do bairro
  • vendedor ambulante
  • “invasora” de prédio
  • morador de rua (adulto)
  • moradora de rua (adolescente)
  • homossexual prostituto
  • travesti
  • drag queen

As imagens de vídeo realizadas procuraram focalizar o lugar e o percurso de cada um desses habitantes no referido espaço.

 

[1] Queremos expressar nosso especial agradecimento a Cíntia Okamura pelo valioso material de sua tese de doutorado que compartilhou conosco, com a generosidade que a caracteriza, e a Hélio Solha, a quem devemos as imagens de vídeo.

[2] Para mais detalhes sobre a metodologia utilizada para a constituição do corpus de entrevistas, confrontar Okamura 2004.






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