Poderíamos explicar a exclusão dessas pessoas na fala dos demais entrevistados pelo eventual desconhecimento destes de que elas moram no bairro, mas não é esse o caso, como é explicitado na seguinte entrevista com uma representante da associação de moradores (R) e com o segurança particular do bairro (W), a partir da pergunta da entrevistadora (E):
W – É o hotel, é a lanchonete do hotel São Rafael...Você não conhece? (...) Vem família com criança, você viu? Vem pai, vem mãe com criança. Agora durante o dia é uma beleza; agora, à noite... é só viado...
E – E esse pessoal é de onde?
W – É daqui né, não é não dona R?
R – Não é daqui não.
W – A maioria é daqui.
R – É a periferia que tá vindo pra cá agora, periferia... (...)
W – Ah aqui nossa, aqui tem de tudo, não é não dona R? Aqui tem de tudo não é dona R? De tudo tem um pouco aqui.
R – Desde viado...
W – Ave! Não fala em viado não, pelo amor de Deus.
E – Tem muito é?
W – Nossa senhora!... 80% aqui são viado... não é dona R? (risos) É viado e travesti, 80%.
E – Eles moram aqui?
W – Moram e nesses hotéis aí a maioria é tudo traveco... travesti
R – Ai, não conta!
No caso dos moradores de rua, eles são designados como moradores, pessoas, população, sempre com a especificação de rua, que também se opõe a moradores:
V – esse prédio aqui, nós temos uma, uma população bem variada aqui..uma grande quantidade de, de pessoas de rua né, de moradores de rua..se pode ver em frente do Correio lá..tá vendo é uma população de rua ali…que eles estão acampados ali... eles não saem dali...
Temos ainda o caso dos “sem teto” que apesar de morarem nos prédios da região, também não são considerados moradores, sendo referidos mais freqüentemente como invasores, como vemos na seguinte entrevista com a líder de um movimento de “sem teto”, em referência aos estatutos da associação de moradores do bairro:
– (...) entramos na Ação Local, no Viva o Centro (...) que era reacionário..porque tem um parágrafo do estatuto deles que diz: é vetada a participação de ambulantes e invasores, (...). E aí quando nós entramos, não nos queriam.
Podemos dizer que o que intervém nos sentidos de morador, delimitando aqueles que pertencem a essa categoria e excluindo os demais, não é o dado “bruto”, empírico de residirem habitualmente no espaço em questão, mas a interpretação da