No leva-e-traz da política científica: Uma interrogação sobre as “relações sociais”
Eni Puccinelli Orlandi
presentificação, outra dimensão do mundo social em que elas estão vivendo. O peso do discurso outro. Nem a noção de grupo, nem de mulheres se mantém. São ressignificados. Quais delas vão estar mais presentes neste lugar e o que vão mobilizar em mim para que se produza um acontecimento nesta relação, nesta prática, desta pesquisa. Não se conhece a sociedade de uma só vez, em um olhar inaugural. A cada passo vou conhecendo, aprendendo. Como, atando laços e constituindo nelas mesmas um grupo social, elas vão estabelecendo este contato com a sociedade que nós trazemos em nós, em/com nossa presença?
Temos definições aceitas e nossas presenças vão mostrando que é impossível abarcar de uma forma mais inteira o que é esta formação social que imaginamos ser a nossa; o que significa a presença da sociedade nessas pessoas que são parte de um grupo de pessoas que a sociedade não quer que estejam na sociedade. Segregação. E o esforço que fazem para não serem colocadas para fora. Em cada gesto, em cada palavra delas. A nossa presença é este laço mínimo que para elas é a possibilidade de um laço social com o que elas gostariam de ter/ser. Contato mas não relação. São a sobra, a excrescência o a-mais incômodo, espaço em que virei (apresento/represento) a “sociedade do conhecimento” que elas não têm. Nessa presença, no contato com este grupo social com suas especificidades, nosso objetivo não é assistencialismo, ou ilusão de integrar este grupo. Mas buscamos a intercompreensão sempre inacabada, incompleta, possível de trazer outras questões, outras formas de pensar, outras respostas, pois as respostas se desgastam, mudam, perdem força. A presença e o lugar são, assim, uma construção inacabada de uma interrogação.
Concluindo
Pensando portanto a formação social, como temos pensado, como algo não inerte e que se movimenta o tempo todo, e em que as posições sujeitos se alteram na medida em que se movimentam também os processos de identificação que resultam em diferentes posições sujeitos, podemos afirmar que o real do que chamamos relações sociais não se deixa definir pelo imaginário social que categoriza essas relações de acordo com o que as políticas públicas e a administração estabelece. Elas vão muito além e se estabelecem apesar das injunções exercidas pelas relações de poder que a elas se sobrepõem. Ou seja: vazam, encontram formas próprias a suas condições de produção e significam na medida em que, pela invenção,os sujeitos sociais tomam posse de (ou são tomados por?) um mundo que se apresenta em seu real concreto,