Quando o editorial é carta enigmática: uma análise discursiva do rébus


resumo resumo

Angela Corrêa Ferreira Baalbaki



des-cobrir[1] o que lhe fora oferecido como encoberto – superar o enigma. Há um desmantelamento da linearidade, e o sujeito-leitor é convocado a redefini-la.

O editorial-carta-enigmática é construído pelo sujeito-autor como uma charada, e o lugar construído para o leitor é o de um decifrador, diga-se decifrador de um texto já produzido para ser “totalmente decifrado”, de forma que o leitor chegue a uma pré-determinada linearidade linguística. Nesse jogo de linguagem, a relação se dá, em um primeiro momento, entre significantes (verbais e imagéticos). Significantes que são segmentados, recombinados e encaixados em uma operação de subtrair e acrescentar partes. Vale destacar que é uma atividade que opera com uma linguagem pretensamente precisa, a da matemática. A lua, em uma “simples” operação de subtração do l e de adição do s, passa a ser sua, a sua revista Ciência Hoje das Crianças.

Nessa perspectiva, a decifração do editorial ocorreria pelas substituições de partes que, depois das operações realizadas, tornar-se-ia um todo; transformar-se-ia em UM – um texto coeso e coerente, aos moldes do sujeito pragmático. Neste movimento de redefinição da cadeia significante, é concedida ao leitor a função-autor. Cabe a ele encontrar a chave que decifrará a charada, o enigma. E aqui língua é tomada como um código, pois se supõe que um único sentido deve preenchê-lo.

Tudo passa como se o sujeito-autor do rébus acreditasse que a matematização da segmentação e da recombinação dos significantes levasse a uma única possibilidade sintagmática e, por conseguinte, uma única leitura possível. No entanto, lembramos que “a língua no ponto de vista da AD é inatingível, nela se apresentam pontos de resistência à univocidade lógica, resistência às tendências de domesticação dos sentidos” (MARIANI, 2007, p. 66). Com a intervenção de Mariani queremos defender que, embora seja possível solucionar o enigma dos editoriais, não é possível assegurar que sua compreensão seja homogênea, pois todo e qualquer texto está sempre exposto ao equívoco da língua. Ressaltamos que o deciframento do rébus como se tivesse sentido único é parte do funcionamento da língua como código destinado a transmitir informações.

Buscando dar um tratamento discursivo ao editorial-rébus, podemos pensar o texto produzido por este mecanismo como uma metáfora, ou melhor, como um efeito metafórico, entendido como “fenômeno semântico produzido por uma substituição contextual para lembrar que esse ‘deslizamento de sentido’ entre x e y é constitutivo do ‘sentido’ designado por x e y” (PÊCHEUX, 1997, p.96). Pensar o rébus como um efeito

O des-cobrir pressupõe um modelo de ciência segundo o qual o mundo está posto e cabe à ciência desvendá-lo tão somente.



[1] O des-cobrir pressupõe um modelo de ciência segundo o qual o mundo está posto e cabe à ciência desvendá-lo tão somente.