Mariza Vieira da Silva Claudia Castellanos Pfeiffer
configuram as práticas humanas. E,aqui,observamos que falamos empráticasjustamente para não separar o homem da natureza, do meio ambiente, dos recursos naturais.
Continuemos na narrativa daCartilha, para mostrar a força desta regularidade:
Em 1987, uma Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento publicou um relatório inovador -“Nosso Futuro Comum”– que trouxe a público o conceito de desenvolvimento sustentável, definido como“a competência da humanidade em garantir que as necessidades do presente sejam atendidas sem comprometer a qualidade de vida das gerações futuras”(p.5– grifos nossos).
Há, na textualidade do título da reunião de 1987–“Nosso Futuro Comum”–, a presença da regularidade do apagamento do presente, na projeção do futuro, e de uma evidência de um ‘todos’construídapelo pronome possessivo fletido na primeira pessoa do plural epelapresença de “comum” como atributo de “futuro”. Esta regularidade ressoa nosubtítulo atual da RIO+ 20:“O Futuro que Queremos”. Há ainda uma importante indicação de um discurso fundador das boas práticas ambientais contemporâneas: o da sustentabilidade. Este discurso nos indica o apagamento do político em ‘humanidade’ – não há Estados e governos, mas uma categoria genéricaque une todo e qualquer homem, além de filiar-se a um discurso moral da benevolência, da compaixão–;e, mais uma vez, a regularidade do apagamento do presente (da qualidade de vida das gerações presentes) em nome das necessidades futuras. Assim pode ser sintetizada nossa compreensão:
DICOTOMIZAÇÃO CONSTRUÍDA
Necessidadesdo presente
→
Ø qualidade presente
Qualidade de vida das gerações futuras
DICOTOMIZAÇÃO CONSTRUÍDA
Necessidadesdo presente
→
Ø qualidade presente
Qualidade de vida das gerações futuras
Merece ainda ser levantada a evidência daquilo que está em torno das “necessidades”. Seria preciso minimamente perguntar: necessidades de quempodem ser relativizadas em nome das gerações futuras?Quem está recortado dentro das gerações futuras?Quais necessidades? O que são necessidades? Como se constroem as necessidades? Há necessidades que são atendidas para todos hoje? Enfim, o que se apaga quando se relativiza o presente em nome do futurode um ‘todo’ que não tem