Quando o editorial é carta enigmática: uma análise discursiva do rébus


resumo resumo

Angela Corrêa Ferreira Baalbaki



as resistências: não entender ou entender errado; não “escutar” as ordens; não repetir as litanias ou repeti-las de modo errôneo, falar quando se exige silêncio; falar sua língua como uma língua estrangeira que se domina mal; mudar, desviar, alterar o sentido das palavras e das frases; tomar os enunciados ao pé da letra; deslocar as regras na sintaxe e desestruturar o léxico jogando com as palavras... (PÊCHEUX, 1990, p. 17).

É exatamente na desestruturação do léxico que o rébus joga. Na acepção dicionarizada, ele é definido como um jogo de palavras opaco que precisa de uma chave para sua decifração; nos editoriais, é presumido como um jogo contido, controlado pelo autor. Mas, como qualquer texto, o editorial-rébus tem pontos de ancoragem que abrem para interpretações.

Com o rébus – “brincadeira” com a cadeia significante – sentidos desfazem-se e novas relações entre sons/letras, imagens e sentidos são realizadas. Podemos dizer que o rébus marca, paralelamente, um corte na linearidade da cadeia significante e abre para outras. É um mecanismo que joga com a incompletude da linguagem. Enfim, o rébus materializa a possibilidade da palavra ser sempre outra.

Gostaríamos de retornar a um ponto. Por que somente dois editoriais foram produzidos dessa forma? Ou melhor, por que outros editoriais não foram produzidos como rébus? Não há uma resposta, mas podemos conjecturar. Provavelmente, porque deixavam pungente uma das assunções sobre as quais o discurso de divulgação científica se constrói, a saber, a ilusão de que há uma univocidade de sentidos possível nos enunciados científicos, visto que a ciência é tomada como a “constatação” ou a “descoberta” da verdade. Ilusão incompatível com a abertura proporcionada pelo rébus, pois sua interpretação se dá nas bordas e nos limites do sem sentido. Sentido que desliza entre palavras, partes de palavras e pictogramas em uma tentativa de regular suas derivas incontornáveis. A busca pelo ideal de completude, de evidência e de transparência talvez tenha rechaçado a configuração do editorial como rébus[2].

 

Palavras quase finais

Retomando as considerações tecidas neste artigo, destacamos as principais. Para definirmos o editorial como um espaço de produção de sentidos sobre a revista e suas seções, deslocamos sua caracterização da oposição entre opinativo e informativo. O editorial é uma textualização que apresenta a revista e suas seções ao mesmo tempo em

Na revista, o rébus reaparece no interior da temática sobre história da escrita (CHC, nº48, maio/junho de 1995).



[2] Na revista, o rébus reaparece no interior da temática sobre história da escrita (CHC, nº48, maio/junho de 1995).