Pedagogização do espaço urbano


resumo resumo

Mariza Vieira da Silva
Claudia Castellanos Pfeiffer



ambiente, as mudanças climáticas, nesta discursividade, significam a natureza respondendo ao homem por sua má ação, uma resposta moral – um castigo.

 

  1.            No movimento dos sentidos e seus efeitos ideológicos – outras cartilhas

Pêcheux & Gadet (2011), ao discutirem movimentos ocorridos no fim da década de 1960 em torno da escola, da família, do meio ambiente e outros, denomina-os de “lutas ideológicas de movimento”, chamando a atenção para esse “jogo das heterogeneidades discursivas móveis que geram eventos específicos” em meio a essas lutas ideológicas de movimento.

 

Ao mesmo tempo em que, sem dúvida, são uma questão de luta de classes no terreno da ideologia, essas lutas devem ser pensadas não como luta entre classes constituídas como tais, mas, em vez disso, como uma série de disputas e embates móveis (no terreno da sexualidade, da vida privada, da educação etc.) pelos processos por meio dos quais a exploração-dominação da classe burguesa se reproduz com adaptações e transformações (PÊCHEUX & GADET, 2011, p. 97)

 

Analisando o funcionamento linguístico-discursivo de outras cartilhas referentes ao meio ambiente, dirigidas a públicos distintos, pudemos observar deslizamentos de sentidos que, em um jogo entre o mesmo e o diferente, vão cristalizando certos efeitos de sentidos, tornados evidências, como forma de trabalhar as contradições de uma sociedade em que os laços de integração homem-natureza se tornam tão mais esgarçados quanto mais se falem deles. Nesse sentido, é que podemos falar de uma prática ideológica particular presente em um instrumento de ensinar-aprender e, ao mesmo tempo, de saber-fazer, como as cartilhas; do lugar que elas teriam nessas lutas ideológicas de movimento, pela utilização de um instrumento pedagógico, pelo discurso da divulgação científica.

Nelas, ocorrem as dicotomizações, de que falamos na análise da seção anterior, bem como um apagamento de um dizer sobre/no presente, em que o homem deteriorou uma natureza, imaginariamente, em estado de equilíbrio perfeito, o que podemos observar na Cartilha Semeando um mundo melhor, quando diz que o homem “tem oferecido gás metano CO2”, provocando o “efeito estufa”, o “lixo industrial”, “o aquecimento global”, as “enchentes”, o “lixo doméstico”, as “doenças”, com suas ações, em uma página ilustrada, com os enunciados que se seguem: