Sentidos (tra)vestidos: a individuação e a constituição do sujeito travesti pelo Estado


resumo resumo

Lidia Noronha Pereira
Telma Domingues Da Silva



assemelha mais a um transexual do que a um travesti propriamente dito. O sujeito travesti, em nossa leitura, se caracteriza e se identifica com o excesso dos grandes centros urbanos e seu corpo carrega as marcas dessa identificação. Cores variadas nos cabelos, muita maquiagem, roupas curtas que misturam diversas texturas, bijuterias que se destacam, salto plataforma, entre outros artefatos “tidos” como pertencentes ao universo feminino, que são usados, em geral, em abundância pelos travestis.

Talvez a imagem de um travesti mais real “agredisse” aos olhos da comunidade conservadora que não aceita e discrimina os travestis. Ou talvez, ainda, mostre-se uma “preocupação” em retratar o travesti no cartaz, como se o mesmo, através de um modelo, estivesse sendo bem significado (?). De qualquer forma, a imagem que encontramos no cartaz, comparadamente às imagens de travestis que encontramos on line, por exemplo, pode nos indicar uma censura: algo dele fica de fora para que o travesti entre na publicidade da Saúde Pública. Notamos, pois, além da exclusão e marginalização, a imposição de um ideal de imagem pública: na possibilidade de se significar o travesti enquanto cidadão, apaga-se, silencia-se na sua apresentação aquilo que “agride” aos olhos da sociedade burguesa. No caso, são apagadas marcas de sensualidade, o exagero, o extravagante, o erótico etc., em prol de uma aparência aceitável para que o Estado possa significar o sujeito travesti como parte da população.

Note-se que o sujeito travesti, significado no primeiro cartaz, está sorrindo, aparentemente feliz e saudável, o que contrasta com o verbal, pois esse travesti não parece estar com dúvida, nem doente, ao contrário, parece estar seguro e gozando de plena saúde. Então, a dúvida seria para quem? Para o travesti ou para quem lê? Esta mensagem estaria funcionando como um aviso, uma advertência ao “usuário” do corpo do travesti? Podemos pensar em outra paráfrase possível:

 

“Travesti, não fiquei na dúvida.”

  • “Perigo! Você pode se contaminar.”

 

Temos, então, uma rarefação de sentidos, uma vez que só sobra a ideia do sujeito travesti constituído pelo sexo perigoso, deixando de significar tudo para significar “isso”.

Quanto ao segundo cartaz, a imagem fotográfica nos mostra, mais à esquerda, uma rua enfeitada para o carnaval, pessoas descontraídas e um certo movimento. Com um olhar mais atento, percebemos que a festa acontece em uma cidade histórica, casas