Sentidos (tra)vestidos: a individuação e a constituição do sujeito travesti pelo Estado


resumo resumo

Lidia Noronha Pereira
Telma Domingues Da Silva



no estilo colonial, ruas de pedra e, ao fundo, uma igreja barroca. No centro da imagem, temos um casal composto por um homem e um travesti. Note-se que o casal não está na rua onde a festa se dá, mas virando uma esquina, afastado dos olhos das pessoas – e até mesmo do olhar divino!

Com essa imagem, formulamos as seguintes questões para reflexão: Por que não estaria o casal em meio às outras pessoas? Ou o casal estaria se escondendo? Ou, simplesmente, haveria a necessidade de um distanciamento para um contato mais privado, íntimo?  Podemos perceber que, em um dos sentidos possíveis, há uma discriminação sexual, uma vez que este casal só se formaria escondido e para fins sexuais.

Abaixo, do lado direito, temos um preservativo que sugere uma seta, uma indicação, um caminho oposto ao da festa e que diz: “Na empolgação rola de tudo”. Podemos interpretar que o Ministério da Saúde se coloca aí como uma instituição que “sabe” que, durante o carnaval, é comum travestis praticarem relação sexual na rua. Percebe-se que é possível se esconder do olhar do povo, até mesmo do olhar de Deus, mas não se escapa dos olhos do Estado.

Ainda, a camisinha aberta e em formato de uso, sugere que tudo pode acontecer nas vielas próximas aos blocos de carnaval. Outros preservativos sobrevoam a camisinha aberta com o dizer: “Esperar por isso não rola”: aqui, em se tratando de travesti, o excesso de proteção nunca é o bastante.  Além disso, as expressões de ambos, se olhando abraçados, são de desejo; a serpentina que os envolve, lançando-os ao se cruzar sugere uma união – tais elementos, juntos, reforçam ainda mais um discurso de que o sexo pode acontecer ali mesmo, na rua.

Segundo Orlandi (2012),

 

Relacionando sujeito/corpo/linguagem/sociedade, visamos compreender como o corpo, pensando-se na materialidade do sujeito, sua historicidade, é significado em um ou outro espaço de existência, considerando que o espaço significa. Como se constituem seus processos de significação (interpelação, individuação e identificação) concebendo os homens como seres simbólicos e histórico-sociais, pensando-se o interdiscurso e sua relação ao espaço (p. 87).