Pedagogização do espaço urbano


resumo resumo

Mariza Vieira da Silva
Claudia Castellanos Pfeiffer



aí se produzem, de acordo com as diferentes formações discursivas[1], que correspondem a diferentes posições do sujeito em face da ideologia (ORLANDI, 2002).

 

A representação fiel do dicionário nos dá uma língua (imaginária) homogênea, perfeita, completa, sem falhas, de todos nós. Do mesmo modo, o dicionário parece não ter ideologia, sendo “neutro”, ou melhor, tendo a neutralidade (universalidade) da língua. Como não tem marcas ideológicas, sua ideologia é justamente não se marcar ideologicamente. Só um trabalho discursivo pode nos situar ideologicamente em relação aos efeitos do dicionário, observando-se, em sua constituição, o que chamamos as formas materiais, indícios dos processos discursivos, linguístico-históricos (ORLANDI, 2002, p. 108).

 

Observamos que o verbete no “Eco-dicionário” é formado apenas pela definição da palavra. Para Nunes (2003, p. 16), “os sentidos da definição, de um ponto de vista dicursivo, não são detectáveis no interior do enunciado definidor, tomado isoladamente, mas, sim, na relação que esse enunciado estabelece com outros em determinadas formações discursivas. Assim, os enunciados definidores são remetidos às posições ideológicas em jogo...”. Tomaremos, apenas, um verbete, diríamos central - pois, refere-se a um modelo econômico da formação social capitalista -, para que o leitor, retomando a análise que fizemos da Cartilha Ilustrada sobre Economia Verde, Desenvolvimento Sustentável e Erradicação da Pobreza- O Futuro que Queremos, elaborada pelo INPE, possa refletir sobre termos e enunciados de um léxico que se constrói pela sua reiteração em diferentes discursividades, trabalhando as contradições da sociedade.

 

Desenvolvimento sustentável

Modelo de desenvolvimento que utiliza recursos da natureza, sem destruí-los, para um crescimento econômico que também aprimore a qualidade de vida das pessoas e respeite a natureza, mantendo a possibilidade de as próximas gerações suprirem suas próprias necessidades. (IPAS, p. 7)

 

Essas e outras questões devem ser, então, pensadas em uma análise discursiva mais exaustiva do “Eco-dicionário”, o que não faremos aqui, dados os limites deste artigo. Nosso objetivo foi o de sinalizar para questões implicadas ao se tomar o dicionário como referência para a circulação do conhecimento, e, mais, no interior de uma cartilha.

 



[10] De acordo com Pêcheux (1988), a formação discursiva é “aquilo que, numa formação ideológica dada, isto é, a partir de uma posição dada numa conjuntura dada, determinada pelo estado da luta de classes, determina o que pode e deve ser dito (articulado sob a forma de uma arenga, de um sermão, de um panfleto, de uma exposição, de um programa etc.)” (p. 160 – grifos do autor).