Pedagogização do espaço urbano


resumo resumo

Mariza Vieira da Silva
Claudia Castellanos Pfeiffer



 

Para concluir

Neste artigo, vimos que a divulgação científica funciona, entre outras instâncias, por uma articulação entre o pedagógico, o científico, o linguístico, apagando, quase sempre, a espessura política daquilo que se ensina e divulga. A ciência também, em grande parte, diríamos. O que pudemos compreender, a partir das análises feitas, é que um dos elementos estruturantes do discurso sobre o meio ambiente, no espaço da circulação das informações, é o de que é preciso mudar o comportamento do homem, para que ele aja com responsabilidade para com o planeta em última instância. Na individualização da “solução” para os “problemas”, apaga-se a história, apaga-se o político, promovendo, conforme já apontou Orlandi (2003), condições de produção para um discurso reformista que silencia a possibilidade de uma outra ordem nas relações de força e de sentidos instauradas por uma formação ideológica neoliberal. Discursividade esta que estabiliza (tornando visível e naturalizado), a partir de uma articulação entre a ciência e o trabalho social da imprensa, em outras palavras dentro de um discurso de divulgação científica, o modo de configuração daquilo que se tornou, modernamente, um problema social: o meio-ambiente. Um meio ambiente, do qual o homem está quase sempre excluído, mas que é de sua responsabilidade preservá-lo, depois de tê-lo destruído (sua degradação é feita pelo homem e individualmente), e não das condições materiais de existência das sociedades contemporâneas que têm no Estado o espaço das regulamentações e negociações da ordem jurídica e política. Apaga-se o Estado e as contradições inerentes ao atual jogo de forças políticas e econômicas. E esse apagamento, disciplinarizado, pedagogicamente, se instala como um discurso disponível e logicamente estabilizado em nossa sociedade.

Nesse ensinar-aprender, nesse saber-fazer, vai se construindo, assim, uma sustentação para os sentidos de ‘meio ambiente, na indistinção de argumentos configurados por um discurso científico e um discurso moral, no modo próprio de funcionamento de um discurso pedagógico, projetando no indivíduo a responsabilidade por uma alteração de comportamento. Uma discursividade que separa o homem de seu meio, que apaga o presente falando de um futuro, que torna cada um em todos, distinguindo alguns em meio a todos.

 

Referências Bibliográficas

ALTHUSSER, L. Ideologia e aparelhos ideológicos do Estado. Trad. Joaquim José de Moura Ramos. Lisboa: Editorial Presença, 1980.