Quando o editorial é carta enigmática: uma análise discursiva do rébus


resumo resumo

Angela Corrêa Ferreira Baalbaki



Para falar em editorial: entre a opinião e a informação

Neste trabalho, propusemos analisar dois editoriais de uma revista de divulgação científica para crianças. Trata-se da revista Ciência Hoje das Crianças (CHC), uma publicação do Instituto Ciência Hoje. Nossa análise inicia com o batimento entre descrição e interpretação dos editoriais da revista de forma a (re)pensar essas textualizações sob o escopo teórico da Análise do Discurso. Em face de nosso material de análise, consideramos relevante deslocarmos uma certa definição de editorial atrelada do âmbito do chamado jornalismo opinativo.

Em trabalhos sobre editoriais, e aqui citamos o de Guimarães (1992) e o de Gomes (2007), encontra-se a distinção entre “jornalismo informativo” e “jornalismo opinativo”, sendo considerados os editoriais derivados do último. Para além da disjunção entre informativo ou opinativo, nossas considerações buscam compreender algumas das filiações de sentidos que produzem o modo de dizer a divulgação científica para crianças. Devemos considerar, sobretudo, que “o que é dito nos jornais depende fortemente das possibilidades enunciativas específicas de cada formação social em cada período histórico” (MARIANI, 1998, p. 62). Podemos estender a consideração da autora para as revistas da CHC.

De forma a tentar compreender o percurso de naturalização da disjunção entre jornalismo opinativo e jornalismo informativo, retornamos à “Declaração dos Direitos do Homem”. A partir do fim do século XVIII, com a instauração de direitos iguais (diga-se, direitos burgueses), ocorreu uma naturalização do sentido de cidadania. Como nos lembra Pfeiffer (2000, p. 167), “tomamos com a revolução burguesa a universalização do sentido de cidadania – todos são cidadãos e este todo é universal e não específico”. Foram os ideais “nascentes” nas revoluções burguesas, e destacamos a Revolução Francesa (1789) que colocaram em ação os princípios da liberdade de imprensa utilizados por jornalistas do mundo todo durante o século XIX. O artigo 11° da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão juramenta que “A livre comunicação das ideias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem; todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos previstos na lei”. A instauração do direito de todo cidadão à “livre comunicação” passa a ser, ao menos na letra da lei, de todos. A responsabilidade do dizer recai sobre o sujeito, assim como cabe a ele responder por eventuais abusos perante a lei. Trata-se do sujeito-jurídico instituído pelo Estado capitalista, tal como apontado por Haroche (1992), um sujeito detentor de direitos, mas