Quando o editorial é carta enigmática: uma análise discursiva do rébus


resumo resumo

Angela Corrêa Ferreira Baalbaki



também de deveres. Mariani (1998), ao discursivizar a institucionalização da imprensa, mostra-nos ter sido essa fundada na ordem jurídica. Vejamos o que a autora diz:

 

no período em que ocorre a legitimação da imprensa como instituição [...] é também o momento em que se está formalizando tanto uma imagem do sujeito jurídico ocidental, que conquistou seus direitos, e é dotado de vontades e responsabilidades, quanto está firmando concepção predominante de linguagem verbal como instrumento de comunicação (MARIANI, 1998, p.73-74).

 

Mariani (1998) fala da forma histórica do sujeito capitalista, sujeito que funciona no registro jurídico, isto é, de direitos e deveres, como dono de sua vontade, origem de suas intenções, responsável pelo que diz e também da concomitância da institucionalização da imprensa. Posto isto, a noção de informação está vinculada às leis que constituem a pretensa liberdade presente nessa instituição. Mariani (1998) postula que o mito da informação está fundado no mito de comunicação linguística, entendido como o resultado do “domínio” da linguagem referencial.

Se o jornalismo pauta-se no imaginário de objetividade e neutralidade e, portanto, informatividade da linguagem referencial, como se representa a questão da opinião? Para Mariani, “não se trata apenas da antiga discussão das diferenças entre um jornalismo mais opinativo opondo-se a um mais informativo” (MARIANI, 1998, p. 65), mas a opinião é representada como uma questão da “ordem do funcionamento da língua” (idem). O funcionamento está relacionado com a imagem que se faz da própria língua: transparente, unívoca.

O jornalismo, colocado sob a disjunção “informativo” ou “opinativo”, funda-se como organizador dos acontecimentos cotidianos. Em termos discursivos, o que há são gestos de interpretação que organizam e ordenam tais acontecimentos como informativos ou opinativos. Mariani (1998) diz que “no discurso jornalístico mascara-se um apagamento da interpretação em nome de fatos que falam por si” (MARIANI, 1998, p.62). Em outros termos, dissimula a função-autor e o gesto de interpretação. A suposição de leitura literal e dos fatos que falam por si, a partir da suposição de uma linguagem transparente, suporte de sentido literal, é que propicia esse apagamento interpretativo, inerente à linguagem como constitutiva do sujeito. Aferrar-se à língua como sendo ela o repositório dos sentidos literais e unívocos acaba por criar a ilusão de que o que se diz é uma informação e não uma opinião.

Na discussão que trazemos aqui, não consideramos a classificação do editorial como opinativo ou como informativo, visto ser essa uma classificação pragmática que divide e ordena os sentidos no interior do discurso jornalístico. Uma classificação que