Mariza Vieira da Silva Claudia Castellanos Pfeiffer
conhecido o Creador destas suas creaturas" (NÓBREGA,1988, p. 94),como parte de umprojeto linguístico-cultural da colonização – um projeto políticoarticulado e conduzido principalmente pelos jesuítas, equetem comoum dos objetosde ensino da doutrina e da língua, oscatecismos[3]. Nasegunda metade do século XVIII,o Marquês de Pombal expulsa os jesuítas de Portugal e das colônias portuguesas e, dentre outras medidas, promove uma reforma pedagógicade amplo alcance,tornando obrigatório o uso da língua portuguesa e a aprendizagem do latim através do vernáculo português, naMetrópole;e, no Brasil, tornando obrigatório o ensino e o uso do português, de forma a inibir o uso de outras línguas que não a portuguesa, desencadeando, um processo de secularização do trabalho missionário (com a implantação de aulas régias), e de laicização da escola de catecúmenos em direção à escola de ler, escrever e contar.
Nesse contexto, é quepodemos observarapassagem do uso doscatecismospara o dascartilhas, visando à separação entre o ensino religioso, sob a responsabilidade da Igreja,e o ensino do ler e escrever como uma atribuição do Estado.Trata-se, pois, de passar para o Estado o controle da educação, principalmente, levando em conta a economia, o desenvolvimento do comércio e da indústria nas cidades,oque se faz pela construção, principalmente, de um discurso jurídico – uma legislação educacional -, que permite a manutenção da monarquia(VOJNIAK, 2012). Será o início de um trabalho de constituição do português como uma língua nacionaluna, imaginariamente,a ser ensinada nas escolas daMetrópole e daColônia, e de uma posição de um sujeito de direito.
O século XIX, como mostra uma vasta produção acadêmico-científica na área de História das Ideias Linguísticas, desencadeadapor um projeto internacional entre Brasil e França[5],vê a consolidação desse processo, no contexto mais amplo dagramatização(Auroux, 1992)doPortuguês do Brasil, distinto do Português de Portugal, em que se busca, dada a conjuntura histórico-social, a construção de uma língua e de uma literatura nacionais, o estabelecimento de instituições, como aEscola, capazes de lhes conferir legitimidade e criar espaços de circulação de instrumentos e tecnologias, de outras práticas linguístico-sociais.
É, neste século,que se institui, então,uma “forma escolar” brasileira, ou seja, a construção de uma configuração histórica particular em termos de processo de escolarização, comoummodelo possível de transmissão do saber; em que a relação
[3]Mais sobreessa questãopode ser lido em Silva (1998).