Quando o editorial é carta enigmática: uma análise discursiva do rébus


resumo resumo

Angela Corrêa Ferreira Baalbaki



objetos representados. Para explicar a passagem do modelo ideográfico ao silabário, a autora retoma um conhecimento mais “cotidiano” do termo.

 

Para se entender de que forma passamos do sistema logográfico-silábico para o sistema silábico, é importante examinar antes o fenômeno conhecido como rébus, que é a representação de palavras ou sílabas por pictogramas, utilizando-se apenas os sons dos nomes dos objetos representados. Usa-se muito da técnica do rébus em jogos de palavras. Tomemos, por exemplo, o pictograma Digitalizar0002 para representar 'cara' e o pictograma Digitalizar0003 para representar 'vela'. Se compusermos com eles a palavra caravela, estaremos usando apenas as propriedades fonéticas e não as semânticas. [...] Não é fácil tentar representar palavras dessa maneira. Mas foi esse o caminho encontrado pelo homem para descobrir a escrita silábica (KATO, 2002, p. 15).

 

Por que não seria fácil representar palavras dessa maneira? Identifica-se uma tentativa de colar o desenho a um referente único, como se o desenho/imagem fosse uma representação ‘fiel’ do referente. Esquece-se que em desenhos/imagens também há opacidade. Afinal, desenhos/imagens também se inscrevem em redes de memórias. Compreendemos, portanto, que o rébus apresenta um funcionamento discursivo muito mais complexo do que a mera junção de partes de palavras e desenhos.

Também sobre o ponto de vista da linguística, Massini-Cagliari (1999), em um artigo sobre a evolução da escrita, considera o rébus como uma escrita pictográfica-fonográfica. A autora explica que “embora o nome rebus (sic!) não seja familiar, as brincadeiras com este tipo de escrita podem ser encontradas em muitos livrinhos infantis e suplementos infantis de jornais, principalmente em ‘cartas enigmáticas’” (MASSINI-CAGLIARI, 1999, p. 25- grifos da autora). A partir das colocações de Massini-Cagliari, seria possível dizer que o rébus é uma forma atrelada ao mundo infantil, uma vez que relaciona imagem e o som/letra? Ou seria uma forma vinculada ao mundo infantil por não carregar um sentido “transparente”?

Não foi somente a linguística que se debruçou sobre o tema em tela. O tratamento dispensado ao rébus também já ocorrera na psicanálise[1]. Talvez a maior referência ao rébus encontre-se no livro A interpretação dos sonhos, de Freud (1976). A relação estabelecida entre rébus e sonho está na elaboração que transforma os “pensamentos oníricos” em um “roteiro pictográfico” e este é colocado em palavras

Em “Função e campo da fala e da linguagem” e em “A instância da letra no inconsciente”, Lacan (1998) retoma a obra de Freud para frisar que as imagens dos sonhos só devem ser retidas pelo seu valor significante.



[1] Em “Função e campo da fala e da linguagem” e em “A instância da letra no inconsciente”, Lacan (1998) retoma a obra de Freud para frisar que as imagens dos sonhos só devem ser retidas pelo seu valor significante.