Sentidos (tra)vestidos: a individuação e a constituição do sujeito travesti pelo Estado


resumo resumo

Lidia Noronha Pereira
Telma Domingues Da Silva



Assim, identificados os sujeitos do discurso neste caso de análise, Estado e sujeito travesti, a condição de produção dada pelo advento do cartaz em postos de saúde marca o lugar social que cada sujeito tem no discurso, bem como as relações de força.

Consideremos ainda as formações imaginárias (PÊCHEUX, idem) advindas do processo de antecipação entre A e B, neste dado discurso de análise. Assim, pensando na imagem que o Estado faz de si mesmo Ia(A), vemos que esta instituição assume a tomada de posição que por si só já a coloca em vantagem frente a qualquer discurso, justamente por ser a instituição que administra e rege sobre os direitos e deveres de cada cidadão. O Estado, então, com isso, diz saber sua importância, o valor que é atribuído às suas palavras quando este vem a público dizer. Assim, a imagem que o Estado faz vai ser produzida pela própria sociedade, historicamente, a partir da relação simbólica em que se estrutura (cidadão/Estado), concedendo a tal instituição o direito de intervir, uma vez que significa e é significada como “aquela que cuida, alerta, protege, educa – a quem todos devem obediência e respeito”.

Foucault faz um paralelo entre as diferentes instâncias de poder em que se constituem simultaneamente, de um lado, um poder legislador e, de outro, o sujeito obediente: monarca/ súdito, Estado/ cidadão, pai/ criança... Esse paralelo nos instiga a perceber nos cartazes efeitos de um paternalismo zeloso: o Estado brasileiro faz o papel daquele que instrui seus cidadãos e, assim fazendo, mantém sua posição no poder. Nesse âmbito, a instituição parece reforçar o funcionamento do ideal paternalista, que a situa como essa entidade suprema, que pode acolher, cuidar, educar, tratar, orientar sua população, embora também possa castigar, cobrar, impor, discriminar, entre todos, os “filhos rebeldes.

Mas vamos agora discutir sobre a imagem que o Estado brasileiro faz do sujeito travesti: como o sujeito travesti está sendo significado pelo Estado que significa e, por outro lado, como o Estado se faz significar enquanto instância de poder? Como o discurso sobre o sujeito travesti está sendo significado no discurso institucional, no cotidiano a nível nacional? Dessa forma, vamos aprofundar um pouco mais do verbal e das imagens dos cartazes que constituem o nosso corpus, considerando-se os locais de veiculação e o seu público-alvo.