Quando o editorial é carta enigmática: uma análise discursiva do rébus


resumo resumo

Angela Corrêa Ferreira Baalbaki



quando se relata um sonho[1]. O sonho relembrado surge como conteúdo manifesto – produto do relato. Já o conteúdo latente só é desvendado por meio de trabalho de interpretação. Freud chega a apontar a impossibilidade de solucionar o enigma do sonho.

Ainda no campo da psicanálise, em um estudo sobre a letra e a escrita na psicanálise, Rego (2005), sustentando suas constatações na obra freudiana, promove uma interpretação para o rébus. Para a autora, sua base é “fonetizar um signo de palavra deslocando-a da significação como palavra” (REGO, 2005, p. 81). De forma a alcançar tal definição, a autora busca, em um dicionário da língua portuguesa, as acepções do termo. São encontradas duas: a primeira descreve o procedimento no qual o rébus é sopesado como a origem de fonetização do pictograma[2]; a segunda incorre na definição mais usual do termo – jogo de palavras, charada, enigma a ser decifrado. Muito embora as linguistas Kato (2002) e Massini-Cagliari (2000) refiram-se à primeira acepção, de certa forma, acabam tomando o termo mais cotidiano para explicar o conceito.

Voltando ao trabalho de Rego (2005), que não se furta em enfatizar a importância do rébus para a psicanálise, é possível constatar que tal mecanismo não é apenas fundante da teoria psicanalítica sobre a interpretação do sonho, mas, da interpretação de qualquer formação do inconsciente. Sua justificativa repousa na operação principal da interpretação: “causar a exposição de uma outra cadeia” (Rego, 2005, p. 128) composta por significantes.

Diz-nos Rego (2005) que os enigmas de figuras, que podem ser encontrados em gibis, almanaques, palavras cruzadas, ou melhor, “livros de entretenimento” de uma forma geral, são considerados como “falsos enigmas”, pois estão destinados a uma “decifração plena”. Os “verdadeiros enigmas” (como os sonhos) não podem ser completamente interpretados. Nesta perspectiva, a diversão impressa pelos “falsos enigmas” é garantida exatamente pela possibilidade de decifração plena, ou seja, eles podem ser totalmente solucionados. Ocorreria tal decifração plena em relação aos editoriais da revista CHC (ou de qualquer outra textualização)?

Na referida obra, o sonho é entendido como a realização de um desejo, desejo este recalcado. Os sonhos apresentam dois mecanismos de trabalho: o deslocamento (a possibilidade do desejo se realizar por substitutos) e a condensação.

Rego (2005) considera essa passagem como um “momento crucial da escrita onde o figurativo se despede de seu significado e passa a ser usado como significante sonoro. Sua primeira ocorrência teria sido na escrita sumeriana; neste caso, um pictograma foi usado foneticamente para escrever um nome próprio” (REGO, 2005, p.100).



[1] Na referida obra, o sonho é entendido como a realização de um desejo, desejo este recalcado. Os sonhos apresentam dois mecanismos de trabalho: o deslocamento (a possibilidade do desejo se realizar por substitutos) e a condensação.

[2] Rego (2005) considera essa passagem como um “momento crucial da escrita onde o figurativo se despede de seu significado e passa a ser usado como significante sonoro. Sua primeira ocorrência teria sido na escrita sumeriana; neste caso, um pictograma foi usado foneticamente para escrever um nome próprio” (REGO, 2005, p.100).