Quando o editorial é carta enigmática: uma análise discursiva do rébus


resumo resumo

Angela Corrêa Ferreira Baalbaki



de significação, no qual o leitor atribui sentidos ao texto. Em outros termos, a leitura é a configuração de uma discursividade instaurada em um modo de significação. Devemos destacar que, em nossa orientação teórica, não há um recobrimento da noção de leitura e de interpretação. Orlandi (2004) esclarece-nos que a noção de interpretação é mais ampla do que a de leitura, sendo esta uma função enunciativa daquela.

Há de se destacar que, nesse processo, encontram-se minimamente duas posições discursivas: quem produziu (o sujeito-autor) e quem lê (o sujeito-leitor), ambos dando sentido ao rébus. No entanto, não há, como aponta Rego (2005), garantia de interpretabilidade por parte do leitor, visto que extrapola o meramente linguístico e o meramente imagético. Observa-se aí a possibilidade do trabalho do equívoco produzindo efeitos de sentidos. Um exemplo que talvez ilustre tal trabalho do equívoco foi uma passagem ocorrida durante a testagem do editorial número 9. Vamos ao seu relato. Quase ao final da atividade, uma aluna levantou-se e perguntou à professora: “Esses bonecos são do ‘Criança Esperança’?”. Há aí o trabalho do equívoco, da memória; há historicidade. A criança re-significa em outro lugar, ou melhor, sentidos são produzidos para outra discursividade para além daquela da revista.

Em seu funcionamento ideológico, as palavras e os desenhos apresentam-se como transparentes como possíveis de serem atravessadas de forma a atingir seus “conteúdos”; de serem decifrados plenamente. Pomos em causa o efeito ideológico que produz a ilusão de referencialidade. Observamos, no exemplo acima, como os pontos de deriva de um enunciado (sejam de um rébus ou não) oferecem lugares à interpretação. Em sendo assim, a leitura de uma materialidade discursiva implica a “condição do legível em relação ao próprio legível” (PÊCHEUX, 2007, p. 52). A interpretação transita na relação existente entre o ideológico e a memória. A materialidade linguística e a imagética funcionam no equívoco. Isso significa dizer que as duas materialidades são opacas e passíveis de serem afetadas pelo equívoco. Como averiguamos, são diferentes as “reações” ao equívoco, aqui entendido como, "aquilo que faz com que em toda língua [ou qualquer outra materialidade] um segmento possa ser ao mesmo tempo ele mesmo e um outro, através da metáfora, do deslizamento, do lapso e do jogo de palavras e do duplo sentido dos efeitos discursivos" (PÊCHEUX & GADET, 2004, p. 51).

Em relação aos dois editoriais, observamos que são tecidos com fragmentos de palavras, com desenhos, números e sinais de notação matemática. É a recombinação das partes que proporciona a decifração do enigma. E aí se instauraria a satisfação do leitor: