convivência com o português, em todos estes continentes. Visando uma humanidade compartilhada, é preciso se constituir uma relação com as línguas enquanto elas nos significam em nossas histórias, em nossas culturas e nossas singularidades. Sem esquecer que não somos apenas diferentes, mas também semelhantes em nossa condição de sujeitos simbólicos e históricos, com nossas formas de relações sociais e nossas línguas pluricêntricas.
Nesse sentido, não é só a lusofonia, redefinida, que nos interessa preencher de sentidos, mas sua relação com a hispanofonia e a francofonia, a anglofonia, a africanofonia[6], a arabofonia (também re-significadas) em função de uma história mais ampla e mais vasta e também plural. Falar e escrever em nossas línguas, na relação com outras línguas, pode significar uma apropriação, no século XXI, de um instrumento equivalente a outros instrumentos tecnológicos de representação de nossa relação com esta questão linguística mais ampla que nos convida a refletir, conjuntamente, sobre a geopolítica linguística contemporânea e que possa nos colocar em uma posição histórica e política decisiva na contemporaneidade, não só para as novas gerações, mas tornando possível a relação entre diferentes gerações com seus modos de se relacionar à(s) “sua(s)” língua(s). Sociedades, sujeitos, sentidos estão sempre incompletos, em movimento e em processo de constituição. As línguas seguem o mesmo princípio. E seus cursos.
Em suma : uma práxis polissêmica das línguas.
A questão não está no conteúdo do que consideramos a propósito do mulitlinguismo. Como para a questão do sentido, a questão do multilinguismo está nas relações que estabelecemos para as línguas e entre elas. Relações que têm como princípio a abertura do simbólico. Isto quer dizer que é preciso considerar as relações entre línguas como relações sempre incompletas, em que se pratica a polissemia, compreendida como o fato de que há sempre vários movimentos de sentidos no mesmo objeto simbólico. Agora pensando não a polissemia que se dá nas palavras ou expressões de uma língua mas a polissemia da própria língua. As línguas são polissêmicas, sujeitas a falhas, ao possível, derivam, deslizam. Em consequência, é preciso estabelecer a relação de uma língua á outra produzindo efeitos metafóricos, em outras palavras, derivas de sentidos, deslizamentos, trabalhando essas relações de modo que as línguas se abram a estes efeitos. Elas, então, não se mantêm fechadas mas abertas
[6]Palavra usada pelo representante deste espaço, na conferência, e que siginificava, aí a pluralidade de línguas existentes no continente africano, criticando, assim, a própria formação da mesa em torno de determinados espaços que, em relação a África, incluía espaços linguísticos colonizadores e deixavam as línguas afraicanas sem “espaços”