ambiência de certos espaços públicos urbanos, sejam daqueles de Bonn, Varsóvia, São Paulo, Túnis ou Paris
[2].
Uma lição que podemos tirar dessa cooperação é que ela abriu novas questões e perspectivas ao domínio das ambiências. Ela não se limitou a reconduzi-lo de modo idêntico, a transferir tal qual um corpo de saber existente ou a aplicar mera e simplesmente metodologias de campo já constituídas. Esta colaboração internacional só foi possível ao preço de um verdadeiro gesto de conversão. Nós queremos dizer com isso que a fim de tornar-se pertinente e operatória para cada uma das equipes, a noção de ambiência foi objeto de um certo número de reformulações e deslocamentos. Essas transformações operaram-se em três níveis principais:
No nível lingüístico - Era preciso traduzir a palavra “ambiência” nas outras línguas: em polonês (nastrój), português (ambiência mais do que ambiente), árabe (jaw) e alemão (Atmosphäre mais do que Stimmung, Ambiente ou Klima). Na busca da melhor versão, abria-se a cada vez um novo campo semântico, aparecia uma nova maneira de recortar o real, sendo preciso esclarecer o máximo possível as acepções do termo “ambiência” e revelando precisamente através disso as potencialidades e limites da palavra em francês. Em soma, a passagem pela tradução era um meio de desconstruir essa noção (em que difere da noção de ambiente? como coloca em causa a oposição entre objeto e sujeito?), de pôr em evidência o que ela contém de implícito (ela tem necessariamente uma conotação positiva? em que convoca o que envolve e o que perdura no tempo?) e de abrir sua área de significação (como passar de um uso corrente a um uso científico? como operacionalizá-la para pensar em processos e não somente em estados?).
No nível disciplinar - Ao mobilizar perspectivas tão diferentes como as da geografia humana ou do urbanismo, da psicologia ambiental ou da arquitetura, da Análise de Discurso, da sociologia urbana ou da saúde pública, tratava-se de medir o
[2] Cada equipe ocupou-se do estudo de uma praça pública e de uma linha de transporte em comum (metrô ou bonde) em seu país de origem. O objetivo comum foi evidenciar os processos e modalidades de emergência das ambiências urbanas. Em relação às praças públicas, cada equipe desenvolveu livremente sua própria metodologia, enquanto que para as linhas de transporte em comum uma mesma abordagem (
escuta reativada) foi coordenada pela equipe Cresson. Esse dispositivo de pesquisa consistiu em fazer variar os ângulos de abordagem das ambiências e a interessar-se não somente nos resultados obtidos (
quid das dinâmicas de ambiências?), mas também nos caminhos tomados para chegar a elas (
quid das metodologias?).