Gestos de interpretação e função-autor no blog Nodanakaroda


resumo resumo

Lucimar Luisa Ferreira



Introdução

Com o desenvolvimento das ferramentas e suportes digitais, novos espaços de formulação e circulação de discursos são criados e, nessas textualizações1, novas formas de o sujeito se constituir autor. Em qualquer suporte digital destinado a textualização, especialmente blogs, o sujeito produz os seus textos e os publicam imediatamente, sendo esta uma diferença significativa entre um texto pubicado na Internet e os de publicação impressa convencional. Com o uso do blog como ferramenta de postagem, a formulação e a publicação são quase simultâneas e isso promove mudanças consideráveis na produção dos gestos de interpretação do sujeito e na autoria.

Pensando o discurso formulado em suportes digitais como escritoralidade (GALLO, 2011), os blogs são ferramentas de postagem que representam bem essa nova maneira de formular que alia diferentes formas de linguagem verbal e não verbal: escrita, vídeo, fotografia, animação, música etc.

Para entender a autoria produzida em um blog é necessário entender como a ferramenta de postagem funciona em termos de espaço de circulação de textos e de tempo da formulação. E, mais do que isso, compreender como a fluidez e a instantaneidade2 das publicações participam da construção dos efeitos de sentidos. No blog, a textualização online condiciona a produção dos efeitos de sentido. É na posição sujeito conectado, que o blogueiro produz os seus posts, se dirigindo, na ilusão de tempo real3, a um público leitor imaginário, virtualmente próximo.

Entendendo o blog como uma das novas ferramentas de postagens que proporcionam ao internauta um espaço de interpretação e uma maneira diferente de legitimação de seu dizer, neste trabalho tratamos da especificidade da interpretação e da autoria no processo de textualização em um blog pessoal. Pensando o texto postado em um blog como parte de processos discursivos mais amplos, desenvolvemos a análise, buscando compreender os movimentos de interpretação do sujeito, que ao assumir a função-autor produz a formulação, sempre considerando a relação entre memória metálica, memória discursiva e efeito-leitor.

Nesse sentido, o objetivo deste trabalho4 é compreender os processos discursivos de constituição dos gestos de interpretação e a autoria do sujeito indígena Baniwa no blog Nodanakaroda5. A fundamentação teórica são noções da Análise de Discurso (discurso, ideologia, interdiscurso, gestos de interpretação, textualização, função-autor, condições de produção) e um corpus formado por recortes de posts disponíveis no blog.

 

A autoria em blogs a partir da noção discursiva de função-autor

A autoria pode ser concebida de diferentes maneiras, dependendo da perspectiva teórica e da problematização que se coloca. Neste trabalho, buscamos compreender a autoria enquanto noção discursiva constituída a partir de práticas de textualização própria da internet, entendendo que as ferramentas de postagens disponíveis na rede, além de propiciar a emergência de novas discursividades, proporcionam ao internauta uma maneira diferente de legitimação de sua produção e, com isso, uma nova forma de se constituir autor na/pela rede.

Para alguns estudos, com o desenvolvimento dos suportes digitais, a autoria está fortemente ameaçada, podendo até mesmo desaparecer. Para Mattar (2009), a autoria está ameaçada com a impessoalidade cada vez maior na era da internet. A esse respeito afirma que a figura do autor, que se estabelece com a cultura do livro impresso, estaria sob ameaça com a multiplicidade de mídias na sociedade da informática. A automação do processador de texto teria, segundo ele, tornado a comunicação impessoal; o autor não assina mais suas produções e o processador de textos remove o carimbo gráfico da personalidade. Corroborando essa ideia, entretanto de forma mais enfática, Nazario (2005, p. 403) considera que o autor desaparece com a possibilidade de as obras circularem na rede em arquivos eletrônicos, podendo ser impressas pelo leitor na forma que este desejar.

Mas se pensarmos a autoria numa perspectiva discursiva, a partir do discurso da escritoralidade e da noção função-autor, a textualização em blogs não inviabiliza o processo de autoria. De acordo com Orlandi (2009, p. 67):

 

a informatização, a prática da escrita de textos no computador, assim como os modos de ler, transforma efetivamente a relação do sujeito, do autor com a escrita e com o que é ler, em função da mudança da materialidade da memória (arquivo), algoritmizada, nesse caso, e da relação com a exterioridade do dizer, mas isso não quer dizer que não haja produção de autoria.

 

A partir desse entendimento, a autoria não enfraquece ou desaparece com o desenvolvimento dos suportes digitais e meios eletrônicos, ela se modifica. Na composição, manutenção e postagem em um blog, a função discursiva autor (ORLANDI, 1999) é a função que o eu blogueiro assume enquanto produtor de texto de forma online.

Podemos pensar que num espaço como a Internet, onde, em princípio, tudo cabe, tudo circula, ao contrário do que alguns estudos apontam, a autoria se torna uma noção necessária no processo de legitimação dos textos. Numa sociedade como a nossa, fundada na hierarquia e sustentada por relações de poder, os dizerem dos sujeitos não têm o mesmo status e esse fato repercute/interfere no significado social do que é formulado e que circula na rede/Internet. Assim, por mais que alguns estudos mostrem o contrário, a autoria continua em funcionamento da rede digital, sem desconsiderar as transformações pelas quais passou/passa. Os blogs pessoais, especialmente, funcionam sob o efeito de autoria, ou seja, sempre há um sujeito que assume a função-autor no processo da formulação, se responsabilizando pelo que publica.

Nesse sentido, a função-autor no blog é a dimensão do sujeito que se coloca (imaginariamente) na origem do dizer, trabalha a contenção dos sentidos e cria, com esse gesto de interpretação, o efeito de unidade, borda e fecho para as produções textuais. Para Romão (2006, p. 17), o autor “precisa ter domínio (ainda que imaginariamente) dos sentidos que supõe produzir, fazendo movimentos de referenciação, antecipação e retroação, não deixando o sentido ir para qualquer lugar nem ser qualquer um”. De acordo com Orlandi (2007, pp. 68-69), “a autoria é uma função do sujeito responsável pela organização do sentido e pela unidade do texto. A esse respeito diz que “o autor responde pelo que diz ou escreve, pois é suposto estar em sua origem”.

Sustentados nessa compreensão, partimos da noção discursiva de autoria formulada por Orlandi (1999, 2001, 2007), através de um deslocamento do conceito de função-autor de Foucault. Para Foucault (2001), o autor é princípio de agrupamento de discurso, unidade e origem de suas significações, foco de sua coerência. De acordo com Orlandi (2001, p. 139),

 

à diferença de Foucault (1971), que liga a função-autor à obra, nós consideramos que há função-autor desde que haja um sujeito que se coloca (imaginariamente) na origem do dizer produzindo efeitos de coerência, não-contradição, progressão e fim. A produção imaginária da unidade [...] é um dos efeitos mais importantes da função-autor, tal como a concebemos, no ordinário do discurso.

 

Nessa perspectiva, de acordo com Orlandi (2001), o texto pode ser considerado como uma “peça” no sentido de engrenagem, que tem um jogo que permite o trabalho da interpretação, do equívoco. Para a autora, há um espaço simbólico aberto com a possibilidade de o sujeito significar e se significar. Nesse sentido, acrescenta que “para alcançar o ineditismo da produção discursiva, cada texto é um texto, sendo preciso não nos iludirmos com o texto enquanto unidade empírica, mas pensá-lo como unidade imaginária, fazendo intervir na reflexão, a ideologia”.

Para Orlandi (2001), é nessa conjuntura que entra em cena o texto, não mais como unidade linguística disponível e naturalizada, mas o texto em sua forma material, como parte de um processo pelo qual se tem acesso indireto à discursividade. De acordo com Gallo (2011, p. 416), o texto em si é dispersão de sentidos e a função-autor é a dimensão de todo sujeito que trabalha permanentemente na contenção dessa dispersão. Nessa compreensão, na prática da textualização, seja qual for a forma de produção (impressa ou digital) e a maneira de circulação, o sujeito constrói imaginariamente a unidade do texto e o efeito de unidade sempre mantém relação com a dispersão dos sentidos que o atravessam.

 

O discurso da escritoralidade e a autoria

Numa perspectiva discursiva, o foco das discussões sobre autoria é o acontecimento da formulação (textualização). De acordo com Pêcheux (1997), o acontecimento discursivo é o ponto de encontro de uma atualidade e uma memória. Para Orlandi (2001, p. 10), a formulação “é o acontecimento discursivo pelo qual o sujeito articula manifestamente seu dizer”. É compreendido nessa perspectiva, que o acontecimento dá o contorno material ao dizer instaurando o texto, que é produzido na formulação.

As novas mídias com as quais estamos convivendo na contemporaneidade permitem uma grande e contínua circulação de textos por meio da Internet. De acordo com Gallo (2011, p. 411):

 

A possibilidade da troca de e-mail (mensagens eletrônicas), publicação em ambientes como Twitter, [...] Facebook, Wikipédia, YouTube e em blogs são alguns exemplos das novas condições de produção da escrita, que podem constituir acontecimentos discursivos de um jeito próprio de formular da internet.

 

Ao agregar diferentes dispositivos de postagem, na Web há outras maneiras de formular e colocar em circulação os dizeres.

 

Novas formas de escrita/escritura/grafismo inauguram outras relações da escrita com o oral (escritoralidade/oratura). Diferentes formas de autoria podem surgir em inesperados contextos de realização, em outras formas materiais antes não experimentadas” (ORLANDI, 2001, p. 65).

 

Esse funcionamento pode ser explicado porque em uma perspectiva discursiva, o processo de produção do discurso apresenta três momentos igualmente relevantes: constituição, formulação e circulação. A constituição do discurso é a dimensão vertical, ou seja, o interdiscurso, a memória, o saber discursivo. A formulação é a dimensão do eixo horizontal, linearização do dizer. E a circulação se dá em certa conjuntura e segundo certas condições de produção e suportes.

De acordo com Orlandi (2001, p. 11), “todo dizer (intradiscurso, dimensão horizontal, formulação) se faz num ponto em que (se) atravessa o (do) interdiscurso (memória, dimensão vertical estratificada, constituição)”. A memória do dizer, nesse domínio de reflexão, é o interdiscurso, o saber discursivo sobre a qual não se tem controle. Trata-se do que foi e é dito a respeito de um assunto qualquer, mas que, ao longo do uso já se esqueceu como foi dito, por quem e em que circunstância e que fica como um já dito sobre o qual os nossos sentidos se constroem (ORLANDI, 2001). Para Orlandi (2001, p. 114), “o interdiscurso determina o intradiscurso, dando um estatuto preciso à relação entre constituição/formulação, caracterizando a relação entre memória e esquecimento”.

Nessa compreensão, pensar a linguagem em funcionamento nos novos suportes e espaços de postagem da rede digital demanda tratar, além da memória discursiva, da memória metálica, que, segundo Orlandi (2010), é a memória da máquina, da circulação, que não se produz pela historicidade, mas por um construto técnico. Nas textualizações próprias da internet, de acordo com Gallo (2011, p. 418) “os sujeitos são autores sustentados pela memória metálica, ou seja, a memória produzida pelo arranjo (que tende ao infinito)”. Para a autora, nesses processos discursivos permanentemente em curso, o instantâneo pode ser o definitivo.

Conforme Gallo (2011), nas práticas discursivas da rede digital, as fronteiras entre o oral e o escrito são diluídas e uma nova forma de autoria se constitui em um processo no qual o sujeito se torna autor de seu texto de forma instantânea, fora das instituídas instâncias de legitimação do dizer. Para Orlandi (2001, p. 84), a organização da escrita nas novas tecnologias de linguagem pode ser tratada enquanto escritoralidade. Segundo Gallo (2011, p. 118), o discurso da escrituralidade é um discurso sem margens estabilizadas, um discurso ele próprio desestabilizador, na medida que produz efeito de autoria sobre sujeitos não alinhados às conhecidas instâncias de poder, que são próprias dos processos discursivos identificados ao discurso da escrita. Nesse sentido, no discurso da escritoralidade, a construção da unidade do texto tem um funcionamento peculiar, já que o fato de estar online em um espaço virtual6 dá contorno significativo ao que é formulado.

 

Os blogs e os gestos de interpretação do sujeito

Em termos técnicos, um blog é um programa padrão, disponibilizado, em grande parte dos casos, de forma gratuita pelos portais de maior influência na rede/internet. Dentre os softwares que possibilitam a postagem de conteúdo na internet, o blog é um dos meios que se destacam em termos de uso, tendo em vista as variadas finalidades dessa ferramenta de postagem e suporte de circulação de discursos. Os blogs podem ser compreendidos como artefatos culturais, uma vez que são “o repertório das marcações culturais de determinados grupos e populações no ciberespaço” (AMARAL et al. 2009, p. 32).

Para Orihuela (2007), o blog é um formato com autoria centralizada. Para explicar essa definição de autoria, o autor traça um paralelo entre um blog e um fórum de discussão, mostrando, assim, as suas diferenças. Nesse sentido:

 

O blog é um meio com autoria centralizada, enquanto o fórum tem autoria dispersa; o blog se estrutura cronologicamente, já um fórum se estrutura tematicamente; o blog gera uma comunidade para fora (blogosfera) mediante links de entrada (referers e trackbacks) e saída (links dos posts e blogroll) ao passo que o fórum gera uma comunidade para dentro (ORIHUELA, 2007, p. 5).

 

Em uma perspectiva discursiva, segundo Ferreira (2013, p. 82), os blogs são:

 

espaços eletrônicos de formulação e circulação de discursos, nos quais o sujeito produz seus gestos de interpretação interpelado pela ideologia e inscrito em uma rede de formulação, sempre sofrendo as determinações histórico-sociais das instâncias que regulam a divisão dos sujeitos no ciberespaço”.

 

Em relação ao surgimento, os blogs fazem parte do desenvolvimento inicial da Web escriturável, em meados dos anos 90, época que a internet começa a se popularizar. Com o surgimento e aprimoramento dessa ferramenta de postagem, as pessoas passaram a poder colocar os seus “conteúdos” (discursos), em circulação na rede mundial de computadores, já que esse tipo de software permite às pessoas sem conhecimento da linguagem de programação7 construir páginas pessoais e atualizá-las sem assessoria técnica. E essa possibilidade de atualização das postagens de forma independente, constitui uma das principais diferenças entre um blog e outros tipos de site.

A possibilidade de os leitores online comentarem os posts dá à escrita no blog uma peculiaridade que reflete na função-autor. Essa especificidade diz respeito à antecipação8 de sentidos e a relação com a memória discursiva. A antecipação de sentidos se constrói a partir do jogo imaginário que rege a construção do dizer no blog. Cada autor constrói (compõe, formata) o seu blog e formula os posts a partir de um imaginário que tem de si, do outro (interlocutor) e do objeto do discurso. Por mais que a ferramenta seja nova e propicie um jeito diferente de construção da unidade do texto, existe um exterior social, histórico e ideológico intervindo na produção dos textos postados. Ou seja, há sempre uma memória do dizer regendo a interlocução no blog.

O formato textual de um blog é variável, embora não deixe de apresentar alguns elementos essenciais (perfil do autor, lista de links, posts com espaço para comentários etc.). Em termos de designer e formatação, as opções são muitas, dependendo do sistema de criação9. A partir da estrutura técnica, o sujeito, no processo de textualização é levado a dizer e a se mostrar na origem do dizer e responsável pelo espaço de publicação. Nesse sentido, por mais que o blog ofereça possibilidade para o leitor produzir comentários, a sua posição discursiva sempre será diferente da posição do autor. Isso porque o autor tem o poder (como moderador) de manter (permitir) ou apagar os comentários. Nesse sentido, o visitante de um blog não deixa de ser autor de seus comentários, porém, o seu dizer circula sob o efeito de permissão feita pelo autor.

O que é importante destacar ainda é que cada autor compõe o seu blog, dando a ele um formato específico, por intermédio de um processo interpretativo. Esse modo particular de formatar o blog e formular os posts acontece a partir de gestos de interpretação do sujeito, tendo em vista que, segundo Orlandi (2007), a interpretação está presente em toda e qualquer manifestação de linguagem. Nesse caso, embora o programa ofereça limites de formatação, o autor compõe o seu blog na ilusão de ser a origem do sentido. Isso porque ao optar por um ou outro elemento, ele o faz a partir das condições de produção da escrita online, sendo esse o processo ideológico da interpelação do indivíduo em sujeito que fornece e impõe a evidência dos sentidos.

De acordo com Pêcheux (1969 apud ORLANDI, 2007) “gesto” é um ato no nível simbólico. No blog, todo o processo de formulação acontece a partir da produção de gestos de interpretação do sujeito qua assume a função-autor para produzir seus textos, colocando em circulação os seus discursos. Nesse caso, no processo de composição da configuração ou da produção dos posts, o sujeito produz gestos de interpretação, a partir da função-autor, filiando o seu dizer a uma rede de sentidos constituídos historicamente. Nesse caso, a construção da unidade do texto tem relação com os processos discursivos em jogo na formulação dos posts e na configuração do blog.

 

Condições de produção: o clique “publicar postagem” e o efeito de fecho nos posts

De acordo com Ferreira (2016), em um blog, as condições de produção são formadas pelo contexto da enunciação online e pelo contexto sócio-histórico e ideológico da interlocução mediada por computador, na qual o sujeito assume a função-autor e se dirige a um público leitor, na ilusão de interatividade, tendo em vista a memória discursiva e a memoria metálica.

Para tratar do evento discursivo na textualização online, tomamos como base as discussões teóricas de Solange Gallo (2008, 2011) sobre espaços cambiáveis. Solange Gallo formulou a noção de espaços cambiáveis para explicar o funcionamento do “ao vivo” nas produções radiofônicas10. Para Gallo (2011, p. 421), o evento discursivo é o momento da saturação dos “espaços cambiáveis” e que tem relação com a presentificação. O conteúdo desses espaços é a materialização do “presente” do texto. De acordo com Gallo (2008 p. 421) é “no preenchimento dos ‘espaços cambiáveis’ que se materializa a relação entre os interlocutores (locutor/ouvinte)”. Em analogia com o “ao vivo”, Solange Gallo (2011, p.421) considera que no online o que há é um preenchimento permanente dos “espaços cambiáveis”. Há uma fluidez que exige permanente presentificação.

No blog, esse funcionamento se processa. Tudo que é postado, um texto inédito ou um trecho citado, adquire o efeito de fecho no clique “publicar postagem”. É nesse clique, no evento (acontecimento) discursivo da postagem, que o conteúdo adquire sua significação sob o efeito de presente. No blog Nadanakaroda, é no evento discursivo de cada postagem que os sentidos são produzidos, tendo em vista a relação do autor Baniwa e o leitor não Baniwa. A data de cada post é a materialidade dessa presentificação, que remete a um movimento transitório da publicação no blog. Isso, considerando que em um blog, embora os posts sejam produzidos sob o imaginário de estabilidade, pois ficam no arquivo, é no movimento transitório, que as postagens significam.

 

Gestos de interpretação e autoria no blog Nadanakaroda

Pensando a prática de formulação em um blog como escrituralidade, desenvolvemos uma análise do blog Nodanakaroda. Este é um blog pessoal de um autor indígena Baniwa, criado a partir do sistema WordPress11. É de livre acesso, ou seja, qualquer internauta pode se tornar o seu leitor sem o uso de senha. Em relação à classificação, o blog, embora possa ser considerado pessoal, pois têm um sujeito individual que representa a sua autoria, não é voltados para o registro de assuntos de cunho pessoal e intimista12.

O blog Nodanakaroda está disponível na rede desde 2008 e é, entre os blogs indígenas visitados, o que possui maior número de postagens e comentários. As matérias postadas nesse blog abordam uma diversidade enorme de assuntos: atividade do povo Baniwa na escola, processo de formação escolar do autor, uso das novas tecnologias pelos professores da escola indígena, questões ambientais, política e movimentos indígenas etc. No blog há textos escritos pelo autor e matérias citadas (recorte de outros sites e colagem).

Analisamos duas sequências discursivas (SD1 e SD2), ou seja, recortes de dois posts do blog Nodanakaroda, buscando compreender os gestos de interpretação e como é constituída a função-autor, tendo em vista o imaginário e as condições de produção dos posts. E, nesse processo, procuramos compreender a produção dos sentidos a partir do funcionamento da memória discursiva, num espaço da memória metálica.

Na sequência discursiva, SD1, abaixo, apresentamos como o sujeito se coloca na origem do sentido e trabalha o fecho do seu texto. O post, publicado no blog Nodanakaroda, no dia 16 de outubro de 2010, trata de um mito da tradição oral do povo Baniwa, sendo reproduzido na página digital, em língua portuguesa, na forma escrita.

SD1 - A grande “Arvore”

OUT 16

Publicado por benjamimray

 

Para cada povo existe a sua forma e sua versão de origem do mundo e de muitas outras coisas que vemos e vivemos hoje. Para nós Baniwa, depois que foi criado o mundo pelo “Heeko”, ainda não existiam muitas coisas que vemos hoje. Entre eles as Plantas Medicinais e outras que são usadas por nós. Havia um grupo de “Pessoas” naquele tempo. E um dia ficaram sabendo que existia uma árvore grande, onde podiam encontrar tudo o que precisassem para viver e deixar para sua descendência. E foram procurar a arvore. A anta estava entre eles. Depois de muito esforço conseguiram derrubar a grande arvore. E cada um levou o que conseguiu pegar, porque tinha muitos “Lipira”, insetos que não deixavam eles pegarem o que queriam facilmente. E a história apenas começa aqui, e vai longe. Esse momento importante na vida dos Baniwa pode ver vivida através da ilustração do artista conhecido e reconhecido no Rio Negro, Feliciano Lana13.

 

O post, SD1, é um trecho de uma narrativa oral, tradicional do povo Baniwa, que foi recortada/recontada de uma forma específica e escrita para ser postada no blog e circular na rede digital. E esse é um funcionamento que mostra o sujeito no trabalho de amarração e contenção dos sentidos. Assim, o ajustamento da narrativa é feito com base no tempo (presente), no espaço de postagem (blog), sendo os interlocutores imaginários (efeito-leitor) um público não Baniwa.

Enquanto blogueiro, que escreve para um público heterogêneo, o autor produz seu texto se adequando ao espaço de produção escrita do blog. Na narração da história, embora reconheça uma “certa igualdade” entre as culturas, o sujeito se identifica a partir de uma especificidade étnica, a Baniwa. Por intermédio do trecho: “Para nós Baniwa, depois que foi criado o mundo pelo “Heeko”, ainda não existiam muitas coisas que vemos hoje.” o autor se inclui em um “nós” (índios Baniwa - etnia específica), embora, como blogueiro, seja mediador entre várias formas de compreender e explicar a criação do mundo.

Na reprodução da narrativa, a temporalidade é aspecto importante da formulação do texto. O post é escrito no presente, embora os sentidos sejam estabelecidos numa relação com o passado de tradição oral Baniwa. As formas verbais (presente do indicativo): “existe”, “vemos” e “vivemos” do primeiro parágrafo, e as formas: “começa” e “vai”, do último, materializam o funcionamento da atualização da narrativa. Já as formas “ficaram”, “levou”, “conseguiu” e outras, apresentam a relação com o passado, com o tempo dos ancestrais. Assim, embora a força de significação da história seja colocada na relação com os antepassados, detentores dos conhecimentos da tradição oral Baniwa. a narrativa é escrita no suporte digital, no presente.

Nesse caso, o texto escrito, que circula no blog produz sentido pelo efeito das vozes dos ancestrais que o atravessam, num movimento de retomada de um tempo anterior, passado. Nesse caso, a memória em funcionamento é a indígena (da oralidade) em que o contador de história não é qualquer um, ou seja, o repasse do conhecimento tradicional tem uma forma específica de ser realizado. O conhecimento coletivo atual do povo pode ser formulado em português, na forma escrita, no presente, para circular no blog, mas a legitimidade do que é dito (o saber indígena) aparece significada, de outro modo e em outro tempo, na oralidade da língua Baniwa, em um passado ancestral.

Com o trecho “e a história apenas começa aqui, e vai longe” o texto é finalizado, fechado, acabado, sendo este o efeito de fecho que se completa com o clique “publicar postagem”. É nesse gesto, no processo de textualização, que o texto, aparentemente incompleto adquire a sua unidade, coerência e fim. A narrativa não é completa, mas esse trecho é suficiente para a finalidade a que se destina. A narrativa no blog é um exemplo da cultura indígena Baniwa viva, significativa e forte e isso dá coerência para essa finalização do texto.

A publicação aparece coerente porque a narrativa, inacabada, funciona como um exemplo daquilo que o povo tem de conhecimento tradicional significativo, mas que tem uma forma própria de formulação (língua Baniwa oral) e de circulação (contação de histórias no cotidiano da aldeia). E esse funcionamento dá indicativo de que a história do povo, o mito, não cabe no espaço do blog, ela vai além, ficando no espaço do não dito, que funciona na memória e que constitui os discursos e os sujeitos Baniwa. De acordo com Orlandi (2007, p. 76),

 

o fechamento do texto que aparece como responsabilidade do autor, necessário mas ao mesmo tempo arbitrário, resulta dessa dupla (e dúbia) determinação da interpretação. A formulação (do autor) está determinada pelo interpretável referido às condições de produção e pelo interpretável referido ao dizível.

 

No caso desse post, a narrativa para circular na rede sofre adaptações (língua portuguesa escrita) necessárias às condições de produção em que o texto é produzido. Assim, o conteúdo postado é um conhecimento tradicional Baniwa, que vem dos antepassados, uma narrativa da oralidade, que ao ser escrita em forma de post, tem seu sentido atualizado no novo suporte, o digital. O blog, nesse caso, é um espaço de presentificar e atualizar um mito de origem, significativo para o povo Baniwa. E esse funcionamento marca um gesto de interpretação do blogueiro autor, ou seja, presentificar uma narrativa tradicional na rede constitui um gesto de interpretação e de autoria do sujeito Baniwa.

O autor produz um texto escrito em língua portuguesa, atualizando um saber da oralidade de seu povo e, embora não assine o texto, assume a responsabilidade pelos sentidos da publicação que coloca em circulação na rede. O mecanismo de postagem do blog, “postado por benjamimray” marca a legitimação da sua autoria. O sujeito indígena, nesse caso, no exercício da função-autor trabalha a contenção dos sentidos, sendo na dimensão do acontecimento da publicação que o texto adquire o efeito de unidade e fecho, passando a compor o arquivo do blog, disponível no espaço fluido da rede. Em termos de processo discursivo, esse post é construído a partir da inscrição do sujeito no discurso indígena, a partir do qual os índios Baniwa têm uma cultura específica, viva e forte. Esses dizeres funcionam promovendo, na dimensão simbólica, a desestabilização dos pré-construídos do discurso etnocentrista ocidental de que os “índios já perderam ou estão perdendo a sua cultura”.

Ao afirmar que os Baniwa possuem uma maneira própria de explicar a origem do mundo, o autor do blog, além de falar dessa outra maneira, dá uma atualidade para essa explicação. Nesse funcionamento discursivo, a cultura Baniwa não está enfraquecida, continua significativa e em circulação, embora em outras condições de produção e produzindo outros efeitos de sentidos, os da rede digital.

Em relação a atualização da cultura, na sequência discursiva (SD2), reproduzida abaixo, o autor do blog publica um post, que apresenta a atualização de um ritual Baniwa. O texto é uma junção de linguagem verbal e não verbal.

 

SD2 - Escola Pamáali, danças tradicionais Baniwa voltam a acontecer depois de muitos anos de silêncio.

 

AGO 31 - Publicado por benjamimray

Figura 1 - Post do Blog Nodanakaroda. Disponível em: http://rbaniwa.wordpress.com/2010/08/31/escola-pamaali-4/. Acesso em: 02 out. 2010. Foto: Plinio M.

 

Tradicionalmente, as flautas e instrumentos são guardadas em igarapés, lá podem ficar quanto tempo for necessário, quando são retirados para as festas o som continua sendo o mesmo, muitas vezes melhor do que antes. Deixar os instrumentos na água é uma forma certa de preservar e manter as flautas em plenas condições de serem usadas.

Antes da chegada dos missionários evangelicos na região, os Baniwa realizavam suas festas de comemorações e rituais que eram realizadas em certos períodos. Depois da chegada deles, a forma de viver nas comunidades mudou também. Houve uma conversão em massa da população. Depois de alguns anos, outros preferiram voltar a viver como viviam antes, outros preferiram seguir a nova crença.  Muitos velhos deixaram de passar o rico conhecimento de danças e muito conhecimento tradicional que possuiam. As flautas foram guardadas, o conhecimento guardado e demorou muito tempo para que voltasse a soar. A região ficou em silencio por um bom tempo, embora em algumas comunidades ainda estivessem acontecendo, mas, o trecho do médio ficou em silencio.

Quando em 2004, as flautas voltaram a soar na região, na primeira formatura de ensino fundamental da escola Pamáali. Dezessete jovens, e ao redor mais de 300 pessoas assistindo aquilo que há tempo os olhos não viam. Alguns velhos ficaram emocionados ao ver e ouvir o som das flautas. Quanto tempo demorou para tirarem as flautas das águas. Depois, em outras formaturas continuaram as apresentações. Hoje, na região é comum ver danças tradicionais em eventos e recepções.

Demorou, mas, é muito bom saber que os velhos não deixaram o conhecimento e as danças desaparecerem, apenas guardaram elas nos igarapés, porque sabiam que algum dia eles iriam usá-las14.

 

Nessa sequência discursiva, SD2, o blogueiro produz seu texto, enfocando o retorno de um ritual Baniwa, que foi silenciado, por um longo tempo no contexto do contato. De acordo com o post, o ritual das flautas foi silenciado por ações religiosas externas, mas está sendo retomado pelo povo. O ritual, na atualidade, faz parte dos eventos, das recepções e das formaturas da escola. No gesto de referir o conhecimento tradicional no presente, nesse post, o blogueiro mostra que, apesar de silenciado por um longo tempo, através de circunstâncias do contato, ele continua vivo e significativo culturalmente. Esse dizer mostra um gesto interpretativo do sujeito Baniwa, numa posição de resistência.

Esse funcionamento discursivo pode ser observado na temporalidade do texto. No post, o blogueiro faz uma retomada ao passado para explicar a ação do contato, mas é no presente que ele se refere ao ritual das flautas. Com o trecho “Hoje, na região é comum ver danças tradicionais em eventos e recepções” o presente do ritual é formulado, textualizado, mostrando a sua atualização no cotidiano da aldeia. O tempo presente marca a retomada de um processo cultural que, embora tenha sido silenciado, nunca deixou de existir na constituição dos sujeitos Baniwa.

A fotografia (figura 1) neste post compõe o texto, produzindo um efeito de evidência da atualização do ritual significativo culturalmente. O enquadramento da imagem15 funciona argumentando no sentido de afirmar que o ritual está sendo praticado no presente, ou seja, está sendo realizado, por mais que tenha sido silenciado. A imagem compõe o texto do post, dando a ele status de verdade.

Com o trecho “é muito bom saber que os velhos não deixaram o conhecimento e as danças desaparecerem, apenas guardaram elas nos igarapés, porque sabiam que algum dia eles iriam usá-las” o texto é fechado, terminado, dando legitimidade à ação dos velhos indígenas. O sujeito, na função-autor, se posiciona no texto, post do blog, marcado por um saber repassado tradicionalmente de forma oral, numa prática em que os velhos têm a responsabilidade de ensinar os mais jovens.

Na formulação, o sujeito marca uma posição em relação ao saber discursivo dito e esquecido, isto é, a memória discursiva. Assim, a manutenção do ritual é interpretada como responsabilidade dos velhos, que acreditaram e mantiveram em funcionamento os conhecimentos tradicionais. Nesse caso, a interpretação do autor é a de que a manutenção e o repasse dos conhecimentos culturais tradicionais Baniwa são feitos pelos velhos de uma forma específica. Esse gesto de interpretação acontece porque a posição do sujeito é a do indígena Baniwa, que mantém a sua cultura, embora tenha sofrido interferências externas no processo do contato.

No post, o sujeito produz um gesto de interpretação sobre o contado e a dominação religiosa e a faz circular no seu blog, fazendo ecoar na rede sentidos sobre o contato, que não é comum na mídia convencional (rádio, tevê, jornal). A matéria não é assinada, mas a sua autoria funciona como efeito do mecanismo do blog “Postado por benjamimray”. Dessa forma, mesmo sem assinatura, o blogueiro ao publicar um post em seu blog, se coloca imaginariamente na origem do sentido e responsável pela denúncia que coloca em circulação, sendo este o processo que o constitui autor Baniwa no blog. Com esse post, o sujeito Baniwa afirma que a cultura faz parte de um processo de transformações e de consequências históricas, mas que ela nunca deixou de existir na constituição identitária de seu povo.

Nessa direção de sentidos, o post produz uma evidência de que os índios Baniwa têm uma cultura significativa e atualizada. Com isso, o sujeito indígena autor do blog formula uma denúncia, que funciona como gesto de linguagem (PAYER, 2006), que se completa no clique “publicar postagem”. O post, que trata do ritual das flautas sendo retomado pelo povo Baniwa, só se constitui como texto no processo discursivo do evento de sua produção, suas margens são estabelecidas conforme as condições de produção do dizer de um sujeito indígena em seu blog pessoal.

 

Considerações Finais

De acordo com as análises, é possível compreender que a possibilidade de produzir textos para leitores online dá à escrita no blog uma especificidade que reflete na função-autor. Essa especificidade diz respeito à antecipação de sentidos e a relação com a memória discursiva no espaço de memória metálica. A antecipação de sentidos se constrói a partir do jogo imaginário que rege a construção do blog e a produção dos posts. Pelo que observamos o autor constrói o seu blog e formula os seus posts a partir de um imaginário que tem de si (indígena Baniwa que tem uma cultura atual específica), do objeto do discurso (elementos culturais presentificados) e do interlocutor (não Baniwa).

               

Nesse caso, está em funcionamento um discurso transverso. De acordo com Pêcheux (1995), “o discurso-transverso remete àquilo que, classicamente, é designado por metonímia, enquanto relação da parte com o todo, da causa pelo efeito, do sintoma com o que ele designa etc”. Nas sequências discursivas analisados, tanto a narrativa quanto o ritual apresentado significam a acultura indígena Baniwa como um todo, sendo presentificada. Para Orlandi (2007, p. 15), “o espaço de interpretação no qual o autor se insere com seu gesto – e que o constitui enquanto autor – deriva de sua relação com a memória (saber discursivo), interdiscurso”. É possível observar no blog analisado, que o autor se constitui como sujeito Baniwa, a partir de uma memória ancestral, e mesmo no espaço da memória metálica, faz circular, no blog, eco da memória Baniwa.

A partir desse funcionamento, o trabalho mostra que o sujeito indígena, por mais que seja afetado por ideologias próprias do mundo ocidental tecnológico globalizado, cria o seu blog, configura a ferramenta e escreve os seus posts em língua portuguesa, inscrito em um discurso indígena, a partir do qual sentidos sobre os conhecimentos culturais Baniwa são atualizados. Nesse caso, embora a Web seja espaço de heterogeneidade16, fluidez e transbordamento dos sentidos, no blog, o sujeito, ao assumir a função-autor, formula e cria fechos imaginários para os seus posts.

Nessa perspectiva, é possível dizer que o sujeito indígena assume a função-autor e formula, no blog, produzindo gestos de interpretação no sentido de construção de bordas imaginárias para o seu dizer e unidade dos textos, numa relação de proximidade com o seu interlocutor (sujeito não Baniwa). A partir desse funcionamento, a autoria se dá no acontecimento discursivo de textualização, no clique “publicar postagem”. Assim, o autor do blog produz os seus textos, a partir de um imaginário, em uma posição configurada no discurso, determinada historicamente, a partir de um processo de interpelação ideológica do indivíduo em sujeito e pela identificação deste com os sentidos da formação discursiva indígena17 de manutenção da cultura.

A partir do que foi discutido é possível afirmar que o blog pessoal é um espaço no qual a autoria, em perspectiva discursiva, pode ser constituída, pois é através da função-autor que o sujeito configura a ferramenta e formula os posts, sabendo que existe sempre uma memória, isto é, um exterior histórico e ideológico intervindo na produção dos sentidos.

No caso específico analisado, para os índios Baniwa, o blog pode ser considerado espaço de dizer que constitui movimentos de resistência, já que possibilita ao sujeito um lugar de produção de gestos de interpretação e de autoria. Através da textualização no blog, mesmo no espaço de memória metálica, o sujeito Baniwa se constitui autor e produz os seus gestos de interpretação e, nestes gestos, promove deslocamentos de sentidos na rede mundial de computadores.

 

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Data de Recebimento: 09/11/2020
Data de Aprovação: 10/01/2021

 


1  A textualização para Gallo (2011, p. 415) é definida como sendo “uma prática de fixação, de ‘escrituração’ de um fragmento. Nessa perspectiva não se tem jamais um texto em si (como objeto). O que se tem é um fragmento determinado, estabilizado, resultado de um trabalho, um funcionamento: a prática de sua produção”.

2  De acordo com Komesu (2005), o blog é um modo de enunciação marcado pela instantaneidade das relações na sociedade atual.

3  Para Baudrillard (apud DIAS, 2011, p. 26), a expressão “tempo real” é uma ironia, pois o que se quer dizer é tempo virtual, na medida em que toda transmissão em “tempo real” não tem existência real para quem a assiste. “O virtual resgata o real em pé e o cospe tal qual, em prêt-à-porter”.

4  Este artigo é uma versão de um dos tópicos da tese de doutorado “Vozes indígenas na rede digital: discurso e autoria”, orientada pela Dra. Mónica Graciela Zoppi Fontana, defendida no IEL - Unicamp – SP, em 2013.

5  Nodanakaroda é um termo em Baniwa, que significa espaço usado para escrever ou simplesmente “lugar onde escrevo”na tradução literal. Disponível em: <http://rbaniwa.wordpress.com/contatos/>. Acesso em: 03 abr. 2011.

6  Para Grigoletto (2011., p. 51), “o espaço virtual ao mesmo tempo em que abriga diferentes discursividades, ele próprio se constitui num espaço de discursividade, mas não sem a determinação da prática social”.

7  HTML, conforme Heine (2008, p. 151), é uma sigla do termo Hiper Test Markup Language; é uma das linguagens utilizadas para desenvolver páginas na internet; existem outras linguagens mais avançadas, porém, a maioria dos sites é produzida e funciona em linguagem HTML.

8  Pelo mecanismo de antecipação, o sujeito antecipa-se a seu interlocutor quanto ao sentido de suas palavras. Para Orlandi (1999), esse mecanismo regula a argumentação, de tal forma que o sujeito dirá de um modo, ou de outro, segundo o efeito que pensa produzir em seu interlocutor.

9  Exemplos: Blogger e WordPress.

10   A noção “espaços cambiáveis” foi formulada por Solange Gallo em sua pesquisa de doutorado sobre produções radiofônicas, na década de 90, publicada em forma de livro no ano de 2008, com o título: “Como o texto se produz: uma perspectiva discursiva”.

11  WordPress é aplicativo de sistema de gerenciamento de conteúdo para a Web, especialmente para a criação de blogs. É distribuído sob a GNU general Public License, sendo gratuito. (Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/WordPress>. Acesso em: 03 jan. 2012.

12  Cf. Schittine, 2004.

13  Blog Nodanakaroda. Disponível em: <http://rbaniwa.wordpress.com/2010/10/16/a-grande-arvore/>. Acesso em: 02 out. 2010.

14  Blog Nodanakaroda. Disponível em: <http://rbaniwa.wordpress.com/2010/08/31/escola-pamaali-4/>. Acesso em: 02 out. 2010.

15  Cf. Souza (2011).

16  Para Authier-Revuz (1990), a heterogeneidade é entendida como dizeres outros que constituem ou atravessam um determinado discurso, de forma mostrada ou não-mostrada.

17  Cf. Ferreira (2013).