A pátria (s)em chuteiras: reescritas do Brasil na Copa das Confederações


resumo resumo

Júlia Almeida



O momento é ainda o das “preliminares da Copa de 2014, junho de 2013, a Copa das Confederações é iniciada em um fim de semana que sucede uma série de protestos contra o aumento das tarifas de ônibus em São Paulo e Rio de Janeiro, em que a polícia e os governos estaduais e municipais deram mostras de total intolerância e despreparo diante de manifestações políticas, consideradas de imediato pela mídia como baderna e vandalismo. O início da Copa das Confederações, a presença da mídia internacional e a atenção mundial voltada ao evento-teste para a Copa do Mundo Fifa 2014 no Brasil são os fomentadores de um contexto excepcional para que um outro enredo se escreva e surpreenda as expectativas da população, do governo, da Fifa e do mundo: como no supostamente “país do futebol”, no espaço-tempo mais propício para o brasileiro reacender a chama sazonal do nacionalismo, inflada pelas numerosas propagandas do governo e das grandes marcas convocando o país a vestir os símbolos do país e vir  para a festa, resulta num outro sentimento (de indignação), num modo imprevisto de ocupação das ruas (das grandes manifestações), numa outra discursividade (dos milhares de cartazes em protesto), numa ampla reinvenção dos sentidos que se quer para o país (que mostraremos aqui), numa nova possibilidade de mobilização e exercício da cidadania (via redes sociais, sem aparelhos políticos prévios, apartidário).

Em nosso trajeto de pesquisa das “preliminares” que antecederam a Copa das Confederações (ALMEIDA, 2013a), vários desses fatores que agora se colocam já estavam postos nas leituras que fizemos da recepção aos símbolos oficiais do evento. Vimos que a internet era o suporte privilegiado de reação e deslocamento dos sentidos oficialmente construídos para o país: ao ethos de país vitorioso que a logomarca oficial da Copa pretendia disseminar, um ethos de desolação, de país eticamente intolerável. Também percebemos como uma insatisfação com relação à Copa saiu das telas em setembro de 2012 em alguns protestos contra a presença do boneco da mascote nas grandes capitais, patrocinado e assinado pela Coca-Cola, denunciando a ocupação de praças e espaços públicos, os milhares de remoções e expulsões (ALMEIDA, 2013b). Também neste momento a internet era o ambiente de registro e comentário (em vídeos) desses protestos ainda incipientes contra a gestão da Copa do Mundo, pouco divulgados pela grande mídia, explicitando as contradições do processo de preparação e realização da Copa 2014: seus custos sociais, culturais, materiais etc.

A imersão neste entorno discursivo da Copa de 2014 já apresentava, contraposto ao discurso oficial dos organizadores, do governo e da grande mídia, que pauta o