Linguagem e educação social: a relação sujeito, indivíduo e pessoa


resumo resumo

Eni Puccinelli Orlandi



Introdução

A prática docente é decisiva para a maneira como os alunos vão se significar para si e para os outros, logo, em relação ao modo como a sociedade os significa.

Para compreender este processo de significação que articula ensino, conhecimento e sociedade, através da relação professor e aluno, temos que observar que, nesta relação, está presente o Estado, enquanto articulador do simbólico com o político, e a ideologia que faz parte do processo de constituição dos sujeitos e dos sentidos.

Cabe aqui uma reflexão específica, do ponto de vista destas relações, que apontamos acima, sobre o modo como estamos considerando o sujeito, o indivíduo e a pessoa, em sua conceituação e enquanto distintas denominações. É importante observar, ainda, que as estamos considerando, tendo como tema de reflexão a diversidade, a deficiência e, como veremos mais à frente, a acessibilidade, tal como a re-definiremos.

Estas três noções – sujeito, indivíduo e pessoa – são fundamentais quando pensamos a formação de professores que trabalham com a diversidade, a deficiência, a acessibilidade. Isto porque, embora distintas, uma está necessariamente ligada à outra em sua constituição e produzem seus efeitos na produção dos diferentes sentidos que adquirem sejam os sujeitos na prática da formação e/ou sejam os sujeitos em formação. Neste texto, estaremos, pois, atentos a esta particularidade do ensino praticado por docentes que trabalham com a diversidade, com a deficiência e a acessibilidade.

 

Sujeito e forma sujeito histórica

Consideremos, inicialmente, o processo de constituição do sujeito. Como tenho proposto em minhas reflexões, o indivíduo (piscobiológico) – que cada um de nós é, quando nascemos - afetado pelo simbólico (mais especificamente pela língua, se estamos pensando o discurso pedagógico), é interpelado em sujeito pela ideologia (PÊCHEUX, 1975). Merece atenção, aqui, que, na perspectiva discursiva, o sujeito resulta da interpelação do indivíduo pela ideologia. É assim que, segundo M. Pêcheux (idem), pode-se falar em sujeito sem colocá-lo como origem de si. De-centrando-o, portanto. Desse modo é que se constitui o sujeito, que é base da forma sujeito histórica da nossa sociedade: a forma sujeito capitalista, ideologicamente constituída e historicamente determinada.