Sentidos (tra)vestidos: a individuação e a constituição do sujeito travesti pelo Estado


resumo resumo

Lidia Noronha Pereira
Telma Domingues Da Silva



“Prazer em exercer um poder que questiona, fiscaliza, espreita, espia, investiga, apalpa, revela; e, por outro lado, prazer que se abrasa por ter que escapar a esse poder, fugir-lhe, enganá-lo ou travesti-lo. Poder que se deixa invadir pelo prazer que persegue e, diante dele, poder que se afirma no prazer de mostrar-se, de escandalizar ou de resistir.”

Michel Foucault

 

O presente trabalho desenvolve-se a partir do referencial teórico da Análise de Discurso, através de trabalhos de Pêcheux (1969) e Orlandi (2004, 2012). Também procuramos, para a compreensão da questão aqui concernida, dialogar com trabalhos na área da filosofia (por exemplo, FOUCAULT, 1988) e da psicanálise (POLI, 2007). Nosso objetivo é refletir sobre a significação social de um determinado sujeito, considerando-se o funcionamento da linguagem enquanto discurso na sociedade e, associado a este, o efeito do Estado, enquanto articulador simbólico, que se exerce através de suas instituições.

Nesse sentido, questionamos o modo como o travesti se significa e como um certo lugar social está já posto para esse sujeito através da interlocução do Estado com o seu cidadão – o que, no caso, se dá a partir de dois cartazes confeccionados e distribuídos pelo Ministério da Saúde.

Sobre a relação de um determinado sujeito hoje com o Estado, Orlandi (2011) assim descreve o que chama de processo de “individuação”:

 

[...] usamos a palavra “individuação” que remete necessariamente ao fato de que se trata de um sujeito individuado, ou seja, a forma sujeito histórica, no nosso caso capitalista, passando pelo processo de articulação simbólico-política do Estado, pelas instituições e discursos, resultando em um indivíduo que, pelo processo de identificação face às formações discursivas, identifica-se em uma (ou mais) posição-sujeito na sociedade. N.R. (p. 22).

 

Dessa forma, propõe-se dois movimentos (diferentes, mas não separáveis) no sentido de uma abordagem teórica para se compreender a constituição do sujeito: no primeiro, tem-se a interpelação do indivíduo em sujeito, pela ideologia, no simbólico, resultando na forma-sujeito-histórica; no segundo, tem-se a constituição desta forma-sujeito-histórica, considerada como modo de individuação do sujeito. Partindo da con-















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