Linguagem e educação social: a relação sujeito, indivíduo e pessoa


resumo resumo

Eni Puccinelli Orlandi



Já a capacitação é própria a uma sociedade que se quer imexível e já feita, em que se evita a formação e, com ela, a compreensão de uma posição sujeito que resiste. Este sujeito que objetivamos com a formação é o sujeito não alienado (MARX, 1844), aquele que sabe discernir e reconhecer o conteúdo e o efeito de sua ação interventiva nas formas sociais. Que “sabe” pensar por si mesmo, tocando o real, no tenso confronto com o imaginário que o determina. Dizer “bem formados” não significa dizer sempre conscientes de sua formação. Como apontamos mais acima, a falha e o equívoco trabalham em permanência esses processos de interpelação ideológica e de individuação pelo Estado, por onde vazam sentidos e posições sujeito irrompem. Ao acaso.

 

Redefinição de acessibilidade

Podemos, nesse passo de nossa reflexão, retomar duas afirmações que nos permitem re-significar o que é acessibilidade.

Mais acima falamos que a formação pode “constituir outras posições que vão materializar novos (ou outros) lugares na formação social”, e logo depois, retomando o que diz Rolnik (idem), falamos em “constituir outras posições para que territórios de existência possam ganhar corpo”.

Estas afirmações, pensando-se a pessoa com deficiência, nos levam a compreender a acessibilidade não como feitura de rampas improvisadas, reformas no ensino, adaptações nos discursos, mas como mudança no modo de significar os indivíduos (outras posições-sujeitos) que possam ganhar corpo no corpo social e ascender a sujeitos históricos com acessibilidade política aos seus modos de vida, a suas práticas significantes, sua existência social.

Com efeito, penso que se conseguirmos propor a formação para que os sujeitos, bem formados, sejam menos “alienados”, menos objetificados, desautorizando, assim, a imposição da capacitação que, na relação do ensino com a sociedade, curvada ao peso da informação, serve a produção de mercado, visando o trabalho no imediato, e não o conhecimento, podemos também fazer movimentar o que se significa por acessibilidade e, em consequência, a “pessoa com deficiência” não ficará submetida a sentidos que não transformam sua relação com o imaginário social e consigo mesma. Nessa perspectiva, não estacionamos apenas no que tem significado a (a)diversidade e podemo-nos aproximar do que seja diferença real das e nas relações sociais. Um ganho, talvez, em direção a outros sentidos não declinados pelo que se significa hoje como “democracia”.