Revelando o outro: fotojornalismo e representações da pobreza no sertão


resumo resumo

Thiago Manchini de Campos



O resultado é uma imagem que captura, no mesmo momento, movimento e ausência deste. Tal recurso retira da família retratada o protagonismo, já que a trajetória do olhar é determinada pela linha que passa ao lado: a estrada imprime movimento, a urbanidade do asfalto que difere do pó do sertão, a aparente passividade e impotência da família que espera contrasta com os automóveis, caminhões e transportes coletivos que ali passam, levando para longe sonhos e esperança.

 

c) Tiago Santana, Coleção “Benditos”, 2000

 

A terceira fotografia é da autoria de Tiago Santana e integra a obra “Benditos”. Esta imagem partilha, no âmbito técnico, de um recurso amplamente utilizado por este fotojornalista, a saber, a inserção dos indivíduos retratados no primero plano. Na imagem em questão, similarmente à de João de Régis, o indivíduo é apresentado em perfil porém levemente desfocado e quase fora do quadro, criando um efeito de desproporção entre os planos que compõem a fotografia e imprimindo a ela uma certa medida de profundidade. A imagem é enclausurada, quase que claustrofóbica, sem pontos de fuga: uma face desconhecida que em seu recorte transborda os limites do quadro, algumas velas no chão, pessoas de costas e, ao centro, a gravura de um anjo e um túmulo. A composição desta imagem, apesar de ter sido capturada em um contexto totalmente diferente, compartilha de alguns elementos da capa de “Canudos: 100 anos”: o sujeito em perfil compondo o primeiro plano, logo a seguir um elemento que evoca a