A urbanização de Campinas/SP e a produção de informação nas maiores ocupações da cidade


resumo resumo

Helena Rizzatti



que, até então, havia sido silenciada, sem quase nenhuma notícia publicada sobre seus problemas sociais. E nessas publicações, a partir de 2006, o foco das reportagens se voltava para a desumanização dos moradores da área, pois escreviam apenas sobre os assassinatos, o índice de prostituição, a produção e venda de drogas, entre outros elementos, que justificavam moralmente a remoção dessas famílias[1] para o resto da população. Com isso, a mídia legitimava para as classes abastadas da cidade a necessidade de remover essa população em prol da melhoria do transporte aéreo nacional, como se não houvesse uma alternativa menos desumana ou como esses moradores não merecessem um melhor destino do que voltar para as ruas pois eram ‘todos’ assassinos e assassinas, prostitutas, vendedores de drogas e assim por diante. Faz-se importante notar que esses fatos realmente aconteciam na região, porém isso só foi afirmado, ainda mais veementemente, pela mídia corporativa quando a área ganhou valor mercadológico.

Como esclarece J. Arbex Jr. no livro de Perseu Abramo (2003, p. 8):

 

[a ‘grande mídia’] é imprescindível como fonte legitimadora das medidas políticas anunciadas pelos governantes e das ‘estratégias de mercado’ adotadas pelas grandes corporações e pelo capital financeiro. Constrói consensos, educa percepções, produz ‘realidades parciais’ apresentadas como a totalidade do mundo, mente, distorce os fatos, falsifica, mistifica – atua, enfim, como um ‘partido’ que, proclamando-se porta-voz e espelho dos ‘interesses gerais’ da sociedade civil, defende os interesses específicos de seus proprietários privados.

 

Entretanto, a população se organizou e dificultou o máximo que pode a organização da sua remoção e conseguiu! Junto do Governo Federal, da Infraero e do Governo Municipal foi alterada a área de expansão do aeroporto de Viracopos para uma região rural da cidade onde foi necessário remover 215 famílias da área em oposição às 7.500 que seriam removidas no plano de expansão anterior. É claro que tal alteração se deu não só pela pressão popular, mas também pelos fatores econômicos, pois a remoção dessa grande quantidade de famílias, mesmo que desrespeitando os direitos humanos para ser feita, custaria muito caro por tratar-se de terrenos urbanos e não rurais.

 



[1] Apresentamos nos anexos tabela com a manchete de todas as notícias contabilizadas no Quadro 1.