Do garrafeiro ao catador de materiais recicláveis: o (re) surgimento de um sujeito do projeto urbano


resumo resumo

Rubiamara Pasinatto



3.3. Análise

Conforme registramos, submeteremos à analise duas sequências discursivas[2] (SD) retiradas de cartas avaliativas dos catadores de materiais recicláveis.

É importante, antes do processo analítico, pontuar a respeito do surgimento do sujeito catador que veio com o despertar do processo de industrialização, no começo do século XX, quando “[...] o ‘garrafeiro, figura respeitada nos bairros e vilas das cidades, foi desaparecendo ao longo do tempo e dando lugar ao catador que, por sua vez, recolhe os resíduos recicláveis de diferentes locais [...].” (PINHEL, 2013, p.15).

Segundo Pinhel (2013), no decorrer do século XX, houve uma mudança no perfil desse trabalhador, acarretada pelo crescimento das cidades e pelo modelo consumista que passou a imperar na sociedade, resultando no aumento da quantidade de resíduos gerados. Ao mesmo tempo, o autor lembra que cresceu também o número de desempregados devido às exigências para acesso ao mercado de trabalho, que restringiram as possibilidades de sobrevivência para importantes contingentes sociais.

Neste panorama marcado pelo aumento do consumismo, além do papel e da sucata, Pinhel (2013) comenta ainda que um outro tipo de material começou a tomar conta do mercado: o produto descartável (embalagens). Isso trouxe um aumento do número dos catadores nas ruas, que muitas vezes trabalham em péssimas condições, de forma solitária e isolada, e não conseguem bons preços para seus resíduos.

Surgem então, de acordo com Pinhel (2013), a partir da década de 1990, as campanhas de coleta seletiva e inclusão de catadores, principalmente em razão de políticas e ações no gerenciamento de resíduos apoiadas por governos, organizações não governamentais, instituições sociais, incubadoras etc. Emergem aí alternativas para fortalecer os catadores e deixá-los mais independentes, como organização em cooperativas ou associações.

É vinculado a este contexto que está o sujeito enunciador das sequências discursivas (SD) que analisaremos.

Conforme Dorneles (2011), no caso desse sujeito catador da atualidade o ofício é perpassado por interesses que convergem para três interdiscursos dominantes, marcados pelo econômico, o social e o ambiental.  A autora afirma que ao menos duas formações discursivas (FD) operam na constituição dos sentidos.

 

Optamos por preservar nos recortes a materialidade linguística exatamente como foi apresentada, não modificamos, portanto, as questões gramaticais, que não são o objeto de análise deste estudo, mas que para a AD podem representar pistas para a análise.

 



[2] Optamos por preservar nos recortes a materialidade linguística exatamente como foi apresentada, não modificamos, portanto, as questões gramaticais, que não são o objeto de análise deste estudo, mas que para a AD podem representar pistas para a análise.