Mariza Vieira da Silva Claudia Castellanos Pfeiffer
Esta imagem, enquanto materialidade significante, configura e materializa uma direção discursiva muito própria às discussões em torno das mudanças climáticas e do meio ambiente: a natureza pede socorro, uma natureza sozinha – aparentemente o homem não está presente nesta imagem – e sem voz que,paradoxalmente,pela intermediação do homem, pode ser socorrida. Uma natureza encarnada em uma árvore com dois traços humanos: a figuração de um rosto (triste, assustado) e a tecnologia da escrita, inscrita nas folhagens da árvore. O contraponto da solidão mediada é o fundo da cidade, metaforizada por um aglomerado de prédios e pelas nuvens que se confundem com a poluição(a cidade anedótica). Há, de nosso ponto de vista, um primeiro gesto de dicotomização nessa discursividade: homem/natureza; dicotomização que funciona na contradição da aparente ausência do homem quando a referência é feita à natureza. Desse modo, encontramos a estabilidade que separa o homem da natureza e, por extensão, do meio ambiente, mas que, entretanto, não pode escapar da contradição constitutiva que incide na impossibilidade dessa separação, materializada na mediação necessária inscrita no rosto e nas letras da árvore.
Prossigamos em nosso trajeto narrativo-discursivo. A Cartilha, logo após esta imagem, começa a traçar uma narrativa sobre a história dos encontros mundiais que já acontecerama respeito dequestões ambientaisque giraram em torno do assim chamadoefeito estufa, Lembremo-nos de que estamos falando de uma cartilha que busca situar a RIO + 20 a qualfaz parte desta série de encontros,cujo nomefaz referência direta, no caso específico brasileiro, às duas décadas posteriores ao encontro da ECO 92. Nesta narrativa, cujo subtítulo é “Tudo começou em Estocolmo”, encontramos:
A partir da década de 1950, verificou-se um grande crescimento econômico em quase todo o mundo. A atividade industrial foi impulsionada por vários fatores, dentre eles ocrescimento populacionale a consequenteampliação do número de consumidoresde produtos industrializados. Essa expansão aumentou significativamentea poluição atmosférica e o uso dos recursos naturais da Terra.
A consciência de que adegradação ambientalpor ações humanaspoderia causarimpactos e alterações profundas na vida do planetalevou a ONU (Organização das Nações Unidas) a organizar, em 1972, a Conferência de Estocolmo.
O encontro, que reuniu representantes de diversos países na capital da Suécia, foi a primeira iniciativa mundialno sentido de organizar as relações entre o Homem e o Meio Ambiente.Ao final da conferência foi divulgado um Manifesto Ambiental com 19 princípios decomportamentoeresponsabilidade, que deveriam conduzir as decisões em relação às questões ambientais(p.4-grifos nossos).