A pátria (s)em chuteiras: reescritas do Brasil na Copa das Confederações


resumo resumo

Júlia Almeida



amamos futebol, vibramos com um gol de nosso time, e gostamos de festejar nas ruas”; no entanto “não somos idiotas e, por isso, não aceitaremos ser manipulados pela “máquina” de lucro da Fifa [...] sustentada por recursos do Estado brasileiro”[4]. O que está em questão é uma rejeição à convocação de um discurso de afirmação da identidade nacional associado a uma prática de gestão pública que se volta contra a nação, quando diz adulá-la.

 

De torcedor a cidadão

Um dos mais expressivos enunciados que são destacados de um contexto de produção próprio e convida o brasileiro a se reconfigurar no tempo-espaço das manifestações de junho de 2013 é o slogan/refrão da publicidade da Fiat para a Copa das Confederações “Vem prá rua”, que se torna palavra de ordem no coro das manifestações e nos cartazes. Destacado do empolgante anúncio publicitário da Fiat para o contexto das manifestações, “Vem prá rua” (por vezes na versão completa “Vem prá rua, porque a rua é a melhor arquibancada do Brasil”) ganha sentido político no quadro das manifestações e passa a convocar a população às ruas, não para torcer e festejar como no anúncio, mas para protestar e lutar pelo país.

No contexto interpretativo das manifestações, de slogan publicitário a slogan político, a aforização contrasta o torcedor-consumidor potencial do anúncio com o ator-cidadão. Considerando a noção ampliada de sujeito e sujeição em Foucault a partir de Vigiar e Punir (1987), como função não apenas das restrições e possibilidades discursivas, mas também das sujeições e investimentos sobre o corpo pelas práticas não discursivas, diríamos que se delimitam novas potencialidades discursivas e de ocupação e circulação dos indivíduos nos espaços públicos que são próprias de um sujeito político, para quem o discurso e a rua são os suportes por excelência da ação e transformação das condições de existência. O jingle Vem prá rua, na voz de Falcão, torna-se o marco desse processo de reapropriação do sentido político da multidão nas ruas, que se contrapõe ao esteriótipo do brasileiro só capaz de encher as ruas na Copa e no carnaval, mas “incapaz” de se mobilizar em torno de direitos e cidadania[5].

Nesse e em outros casos apresentados, o “novo” enunciado,



[5] A reedição do anúncio da Fiat, que passa a ser veiculada depois dos protestos, trazendo à cena  manifestantes e não mais torcedores é uma imagem captada desse deslocamento de sentidos do brasileiro que a população nas ruas impõe.