Revelando o outro: fotojornalismo e representações da pobreza no sertão


resumo resumo

Thiago Manchini de Campos



memória da religião e, pouco depois, um último elemento fazendo alusão à falta: a morte. Diferentemente da leitura textual que, no contexto ocidental, ocorre da esquerda para a direita, de cima para baixo, a materialidade da imagem permite e convoca outros modos de “ordenação” e “orientação” da leitura:

 

Não deslocamos o olhar como na leitura de um texto, da esquerda para a direita e de cima para baixo, por onde a linearidade impõe a lógica do sentido em qualquer forma atualizada de exegese. Para a fotografia, o olhar é deslocado de um ponto fixo, deliberado aleatória e inconscientemente para outras áreas da imagem. Ao retornar invariavelmente para o ponto-referência, um todo se vai re-significando a cada movimento sem que a relação entre as partículas de significação seja unida por laços de causa-efeito. Abandonamos, com esse olhar que remonta a interpretação secular do mundo antes da invenção da escrita, a ordem histórica de nossa existência. O eterno retorno desprende da imagem sua referenciação imediata para remagicizá-la em propriedades fundamentais, contrárias a um “real-dado”. (BODSTEIN, 2006, p.170).

 

O modo como os elementos estão expostos cria um ponto fixo a partir do qual sentidos emergem: entre a vida e a morte surge a fé como mediadora. A falta de enquadramento e o leve desfocar da face em perfil atribuí um sentido de anonimato, cria um espaço que pode ser ocupado por qualquer um já que o sujeito, ao ser recortado e desfocado, perde aquilo que o faz singular.

 

d) Sebastião Salgado, “Terra”, 1997