cidadãos que não são estimulados a lutar pelos seus direitos, pois cria neles a sensação de merecimento daquela péssima situação de vida e isso é notável ao conversar com essa população nos trabalhos de campo realizados. Como explica Santos (2000b, p. 39)

o que é transmitido à maioria da humanidade é, de fato, uma informação manipulada que, em lugar de esclarecer, confunde. (...) na medida em que o que chega às pessoas, como também às empresas e instituições hegemonizadas, é, já, o resultado de uma manipulação, tal informação se apresenta como ideologia.

Chauí (1990, p. 3) nos explica que “A ideologia (...) é a maneira necessária pela qual os agentes sociais representam para si mesmos o aparecer social, econômico e político (...) é o ocultamento ou a dissimulação do real”. Tanto o Estado quanto as corporações da mídia são construtoras e difusoras, assim, de discursos ideológicos. Estes discursos são definidos por esta mesma autora como “aquele que pretende coincidir com as coisas, anular a diferença entre o pensar, o dizer e o ser e, destarte, engendrar uma lógica de identificação que unifique o pensamento, linguagem e realidade para (...) obter (...) a imagem da classe dominante” (ibidem, p. 3).

Por isso, a produção de notícias pela própria população sobre os acontecimentos de seu cotidiano é uma maneira possível de melhorar a compreensão dos moradores sobre o lugar onde vivem de forma que eles se mobilizem para lutar pelos seus direitos. Para analisar essa produção apresentaremos as informações ascendentes encontradas nas duas regiões estudadas.

Produção de informação ascendente na região do Parque Oziel e na região do Jardim Campo Belo

Nessa análise damos maior ênfase na região do Parque Oziel pois, como já indicamos, essa ocupação fica mais próxima do centro da cidade permitindo um maior acesso às redes de informação e comunicação que perpassam a cidade. Além disso, a proximidade da região do Jardim Campo Belo do aeroporto Viracopos dificulta a implantação de rádios comunitárias ou livres na área, um dos meios de comunicação bastante utilizados nas periferias das grandes cidades e metrópoles brasileiras.

Na região do Jardim Campo Belo analisamos as lan houses[1] que existem na área e o jornal nomeado ‘Folha Vip-Viracopos’ veiculado para fins comerciais e produzido pelos próprios moradores da região.

[1] Lan houses são os pontos de comércio onde a mercadoria vendida é o acesso ao computador e à internet.