Do garrafeiro ao catador de materiais recicláveis: o (re) surgimento de um sujeito do projeto urbano


resumo resumo

Rubiamara Pasinatto



Denominaremos as duas FDs mencionadas por Dorneles (2011) como FD capitalista (FDC) e a FD modo social de produção (FDMSP). Cabe aqui destacarmos que a FD não é algo delimitado, pois ela é construída a partir do gesto de interpretação do analista, ou seja, como princípio de uma organização metodológica.

A FDC leva em conta o surgimento do ofício da catação como meio para angariar recursos à sobrevivência dos indivíduos, no modelo mais ilustrativo de troca do trabalho pelo salário. Assim, o empregador compra a força do trabalho ou a capacidade de trabalho desse empregado, através do regime de assalariamento. É um modelo em que a comercialização dos resíduos catados é feita fora da cooperativa, apenas para atender a interesses econômicos individualizados.

FDMSP tem seu ponto de partida na organização dos catadores em associações, num modelo autogestionário como é o caso dos sujeitos que integram o Projeto “Profissão Catador: entre o sobreviver do lixo”. Eles passaram a unir forças por meio da associação, que tem, segundo Pinhel (2013), por finalidade a promoção de assistência social, educacional, cultural, a representação política e a defesa de interesses de classes[...].” (PINHEL, 2013, p.20) e isso trouxe o consequente empoderamento em especial das mulheres, que são a maioria nas associações do “Profissão Catador” .

Nesse sentido é diante do imbricamento destas duas FDs que o sujeito catador está inscrito. De um lado há o interdiscurso da catação como meio para a sobrevivência, essencialmente como moeda de troca e, de outro, a perspectiva da autonomia não apenas financeira, mas efetivamente na constituição do sujeito de uma sociedade, em questões como a auto estima, cultura, saúde, meio ambiente, entre outros.

Lembramos que a FD para AD não é fechada e, portanto, como afirma Pêcheux (1993), é invadida por elementos que vêm de outros lugares, sob a forma de pré-construídos e discursos transversos. Então uma formação discursiva se inscreve entre diversas outras FDs e as fronteiras são movediças já que se deslocam conforme os jogos de luta ideológica de classes.

Pêcheux (2009) não concebe a FD sem ideologia. O mesmo autor em consórcio com Fuchs (1993) explica que a região da ideologia deve ser caracterizada por uma materialidade especifica articulada sobre a materialidade econômica. Assim, o funcionamento da instância ideológica, no sentido da reprodução das relações de produção, é o que a AD convencionou de interpelação, ou seja, o sujeito desde sempre sujeito, interpelado como sujeito ideológico, “[...] de tal modo que cada um seja