O estigma da ameaça ao emprego pelos periféricos na periferia: crise e imigração no Brasil


resumo resumo

Patricia Villen



Ao contrário do distanciamento dos imigrantes em relação aos sindicatos, o estudo de Santos (2014) faz transparecer a existência de uma disputa de forças para canalizar seus espaços de organização política e cultural, por parte de entidades religiosas, partidos políticos e organizações não governamentais. Como a comunidade boliviana representa uma das principais nacionalidades de estrangeiros na cidade de São Paulo, com muitos já naturalizados e outros potenciais futuros eleitores (por nascimento, casamento ou paternidade em solo nacional), representa o principal alvo dessa “cooptação”, notadamente pelos partidos políticos. Entretanto, o autor mostra que há igualmente ações coletivas mais independentes por parte desses imigrantes. Nesse sentido, conforme destaca, as diferentes associações de caráter cultural têm um papel potencialmente político não desprezível.

Outro aspecto que não pode ser ignorado refere-se ao choque de sentir uma realidade periférica se recolocar, às vezes mais brandamente do que em seus próprios países, porém ainda dura. Os imigrantes sentem esse impacto de imediato (principalmente os que se destinam para grandes metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro), pois partem com a ilusão de encontrar um país em pleno desenvolvimento, que ofereceria trabalho e seria mais acolhedor em relação às suas “antigas” metrópoles, onde sabem que as portas da imigração e refúgio estão teoricamente fechadas.

De imediato, o deslocamento internacional os faz entender que, apesar da imagem, o Brasil continua sendo um país da periferia do capitalismo, ou seja, o trabalho aqui é pesado e vale pouco. Mas, a despeito disso, ainda é uma via para se buscar melhores condições de vida em relação àquelas encontradas no país de origem.

Embora o salário possibilite pequenas vantagens de compra no próprio país, facilitadas pela taxa de câmbio do real em relação a muitas outras moedas periféricas – o que não deixa de representar um reflexo da “hierarquia das moedas” (DE CONTI, 2011) mesmo entre países periféricos –, no fundo, ainda permanece nesses imigrantes um resquício de esperança de que, nos países centrais, a realização do projeto imigratório seria diferente. De fato, o “Norte” ainda continua sendo o horizonte desses imigrantes, mesmo se, na realidade, poucos consigam empreender a segunda etapa migratória e a maioria tenha que se resignar a viver nas periferias.

É claro que o tempo de permanência no Brasil pode possibilitar uma melhor estruturação, mas não é garantia de melhores remunerações no trabalho – tampouco a regularização dos documentos ou o aprendizado do português. Com acesso restrito a empregos que ofereçam melhores salários e condições de trabalho, esses imigrantes –