Do garrafeiro ao catador de materiais recicláveis: o (re) surgimento de um sujeito do projeto urbano


resumo resumo

Rubiamara Pasinatto



conduzido, sem se dar conta, e tendo a impressão de estar exercendo sua livre vontade [...].” (PÊCHEUX; FUCHS, 1993, P. 166).

Feitas essas considerações, passamos à primeira sequência discursiva (SD), que segue abaixo:

 

SD 1- Petrobras é muito importante para nós porque antes da Petrobras chegar para nós não era respeitado. Nós se sentia um animal mexendo no lixo. A pessoa virava o rosto para os catadores e hoje com a Petrobras nos semo respeitado por todos, semos tratados como trabalhadores. A nossa renda é onesta. A Petrobras é o melhor projeto que aconteceu para nós. Esperamo que não abandone nós catadores. Desculpe pelo erro eu sei poco escrever.

 

Nesta sequência, o sujeito catador enuncia a importância da empresa financiadora no projeto, mencionando sobre as mudanças que o “Profissão Catador” trouxe tanto no sentido da renda, quanto também a respeito de como a sociedade passou a olha-lo após sua inserção no projeto. Há, no dizer deste sujeito, uma ordem cronológica, a partir da qual ele constrói o antes e depois.

Partimos dos enunciados nós não era respeitado e um animal mexendo no lixo, a partir dos quais o catador ocupa um lugar discursivo ao qual chamaremos de posição-sujeito do lixo (PSL). É evocado aqui o conceito de formação imaginária (FI), já que o catador remete à visão da sociedade diante do seu trabalho. De acordo com Pêcheux (2009), a FI está ligada à representação que os sujeitos têm dos outros sujeitos, são mecanismos de funcionamento discursivo, que não estão relacionados ao físico ou ao lugar empírico, mas às imagens resultantes de suas projeções. Neste caso a maneira que o imaginário da sociedade o percebe, como marginalizado, excluído social e culturalmente, que encontra o seu sustento naquilo que o outro considera lixo.

A essência da PSL está naquilo que já foi dito, inscrito no interdiscurso e silenciado a respeito do lixo e o catador, ou seja, segundo Pêcheux (2009) uma memória discursiva que evoca aquilo que fala antes, de outro lugar, disponibilizando, segundo Orlandi (2001), dizeres que afetam o modo como o sujeito significa em uma situação discursiva dada. Cabe aqui lembrarmos que para Pêcheux (2009), a memória discursiva é o efeito do interdiscurso no intradiscurso.

Retomando o enunciado um animal mexendo no lixo faz ecoar então uma rede de já-ditos em relação ao lixo e ao catador, principalmente se recorrermos à história, já que conforme Pinhel (2013), o “ser catador” tem fortes vínculos com níveis extremos de pobreza e com a busca de materiais em sacos de lixo na rua ou nos lixões, ação que