A pátria (s)em chuteiras: reescritas do Brasil na Copa das Confederações


resumo resumo

Júlia Almeida



quais se cristalizam identidades para o país, para os brasileiros e para o próprio movimento em pauta.

Essa intervenção coletiva numa formação discursiva que há muito produz seus efeitos de sentidos e afetos não se esgota nessas poucas frases apresentadas nem garante com elas seus mais duradouros impactos. Mas coloca bem o desconforto com relação ao modo como o discurso hegemônico constitui os brasileiros como “passivos”, “problema”, e o país como “adormecido”, “nação-seleção”, subvertendo muitas das categorias que pretendem dizer a “alma brasileira”: “o novo jeitinho brasileiro” inscrito em um cartaz no meio das manifestações coloca uma interrogação na afirmada identidade brasileira nos termos que muitas formações discursivas incumbidas de entender o Brasil disseram. Por meio desses cartazes e sua inscrição no espaço-tempo da Copa das Confederações, evidencia-se que a preparação da Copa de 2014 trouxe à cena contradições e intoleráveis que parte da sociedade brasileira (75% da população apoiando o movimento duas semanas depois de iniciado) não quer mais aceitar.

É digno de nota que, no caso brasileiro, na análise rápida que faz Manuel Castells em seu livro Redes de indignação e esperança (2013, p. 179), esses movimentos sociais em rede tenham como contraponto um governo federal que tem se pautado na “redução da pobreza e de políticas sociais distributivas”, dentro de um modelo de crescimento neodesenvolvimentista, que tem suas ambiguidades. Segundo o autor, foi aqui que pela primeira vez na história recente desses movimentos “a mais alta autoridade institucional declarou que tinha a obrigação de escutar a voz das ruas’” (2013, p. 180), reagindo positivamente aos desafios lançados pelo movimento. Curiosamente o slogan do governo federal País rico é país sem pobreza”, que representa um avanço nos modos de dizer/fazer o país foi transformado num cartaz em “País rico é país sem corrupção”, que é certamente uma demanda legítima, mas cuja troca confirma o teor positivista que Eni Orlandi apontou nas formações discursivas fundadoras do país, onde se prefere tratar “da questão da malversação do dinheiro público como questão moral (corrupção) e não político-social de distribuição de renda e da justa administração do bem público (2002, p. 299).

O contra-exemplo (de uma aforização que retroage a discursos mais conservadores) não diminui a extensão da hipótese, que aqui discutimos e exemplificamos, de que se vive um importante momento de reapropriação e reorientação dos sentidos que pretenderam fixar o brasileiro e o Brasil. Reitera o contexto complexo dos extratos discursivos em fricção e a necessidade de aguçarmos