Revelando o outro: fotojornalismo e representações da pobreza no sertão


resumo resumo

Thiago Manchini de Campos



elemento central representações visuais da fé que atuam como mediadoras entre os sujeitos e a falta, representada pela vastidão do sertão e pela morte. Há todo um roteiro de leitura que atribuí sentidos aos sertanejos, inserindo-os em duas categorias: aqueles sem esperança e em fuga – b), d) – e aqueles que ficam, apegando-se à religião como esperança final – a), c).

Outra regularidade que marca as imagens é relativa à de-historicização dos indivíduos, efeito do ângulo e distância no qual são retratados. Nas fotos a) e c) são apresentados em perfil, colocados às margens da imagem (em ambos os casos à direita). Apesar de suas faces estarem em primeiro plano, encontram-se “escondidas”, seja pelas sombras – a) – seja pela falta de foco e enquadramento – c). Já os indivíduos das fotografias b) e d) estão muito distantes ou de costas, impossibilitando registrar o olhar. Esta é uma questão que abordei em minha tese (CAMPOS, 2013) e que se configura como um elemento comum em muitas imagens produzidas no contexto do fotojornalismo voltado para a temática da pobreza. A falta do olhar é um dos elementos, no processo de atualização da memória, que constituem um espaço de generalização do sujeito-pobre que o torna impessoal. Este mecanismo é facilmente observável nas imagens b) e d), que funcionam como paráfrase uma da outra.

A imagem da autoria de Sebastião Salgado, além de bastante conhecida e de circular em diversos veículos, pré data a de Ricardo Funari. Ambas estão inscritas em uma rede de memória caracterizada por alguns elementos visuais e estéticos que determinam não só a composição da imagem como também delimitam, de certo modo, um plano de leitura, a ponto de serem facilmente intercambiáveis. Podemos trocar uma família por outra e o sentido se mantém, pois o que se busca narrar é o acontecimento (seca, falta, etc.). Repito: o efeito de impessoalidade (ausência de face, do olhar) de-historiciza o “pobre” e sua condição, podendo este ser o mesmo no interior do Ceará, Pernambuco ou Bahia. Assiste-se a um processo de homogeneização do sertão e dos possíveis sentidos a eles atribuídos já que, se por um lado há a dispersão de personagens, localização geográfica, temporal e de autores, por outro fazem-se presentes as regularidades filiadas à memória de o que é fazer fotojornalismo – presente na paráfrase dos elementos visuais, técnicas e palete de cores e de o que é ser pobre no sertão – caracterizado pela falta e religião.

Conforme mencionamos anteriormente, a polissêmia é também um fator importante no processo de significação das imagens, já que apesar partilharem de elementos comuns e integrarem de uma mesma formação discursiva, cada imagem tem