O estigma da ameaça ao emprego pelos periféricos na periferia: crise e imigração no Brasil


resumo resumo

Patricia Villen



O percurso expositivo aqui apresentado teve como fim oferecer elementos que ajudam na compreensão das razões pelas quais, mesmo com o percentual baixíssimo da população estrangeira na atualidade do país – o que afasta, por enquanto, a consideração de grandes impactos no funcionamento do mercado de trabalho doméstico – a figura do imigrante e do refugiado continua, como no passado, a representar uma “ameaça” ao emprego, portanto também um potencial alvo de agressões de diferentes tipos.

  A especial ênfase dada à dimensão do trabalho se justifica por elucidar questões de fundo que não podem ser ignoradas para se compreender esses fenômenos. Além disso, procurou-se trazer em discussão as características históricas de uma “outra” base social da imigração no país, que começa a se manifestar no final da década de 1960, se diversificando e ganhando intensidade despois da eclosão da crise, em 2007.

Para concluir, é necessário lembrar que a demanda pela força de trabalho imigrante nunca deixou e nem deixará de existir no Brasil, por ser estratégica e estrutural ao funcionamento do mercado de trabalho, ou seja, a crise não fará com que os imigrantes e refugiados deixem de vir ao país[16]. Além disso, o Brasil não está separado do já referido cenário internacional, no qual se anuncia uma intensificação desses fluxos no futuro (ACNUR, 2014; ONU, 2013).

Ao mesmo tempo em que os Estados-nação, e parte de suas sociedades, devem negar a presença desses imigrantes, a solução colocada para o funcionamento do mercado de trabalho em muitos países, que de forma alguma pode renunciar a essa força de trabalho, é a de que permaneçam e trabalhem, desde que indocumentados, ou seja, escondidos, de forma subterrânea, legalmente desprotegida, portanto superexplorados (CHOMSKY, 2014; BERGGREN et al., 2007).

Mesmo porque o retorno não se colocou como uma solução viável para a maioria desses imigrantes no recente crise e desemprego nos países centrais. Do mesmo modo, a despeito de os efeitos dessa crise na periferia do capitalismo sempre se colocarem de forma socialmente mais perversa, estão impossibilitados de voltar aos países de origem, em função das relações de força que expulsam esses grandes contingentes populacionais na atualidade (SASSEN, 2014; BASSO, 2003).

E mesmo se se apresentasse como uma alternativa, os periricos na periferia conhecem bem as dificuldades de se migrar internacionalmente nos dias de hoje, em



[16] Tal afirmação já se comprovara na década de 1980 e 1990, com relação aos bolivianos e coreanos, que se direcionavam principalmente à cidade de São Paulo para trabalhar na indústria têxtil (Silva, 2008).