Do garrafeiro ao catador de materiais recicláveis: o (re) surgimento de um sujeito do projeto urbano


resumo resumo

Rubiamara Pasinatto



mexendo no lixo e, portanto marginalizado, para um lugar de trabalhador, citado inclusive pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)[3], como um colaborador.

A respeito disso, Dorneles (2011) comenta que a perspectiva de geração de trabalho e renda a esses catadores com a PNRS não os tira da condição da condição de subtrabalho, pois muitos revolvem o lixo em busca da sustentabilidade econômica. “É um resto que sobra e que alguém tem de limpar.” (DORNELES, 2011, p. 45).

O interdiscurso que constitui o sujeito catador como marginalizado também está presente no enunciado sei poco escrever, onde assume a posição-sujeito analfabeto (PSA), retomando a memória discursiva a respeito do indivíduo que vive mexendo no lixo e não sabe ler e escrever, portanto frágil como usuário da língua. É o já-dito sobre o catador e que ecoa mesmo quando este sujeito está inscrito aparentemente na FDMSP.

A segunda sequência discursiva que recortamos está explicita abaixo:

 

SD 2- Antes do galpão vir até nós tínhamos uma vida razoável. Hoje nós temos vários benefícios, como aprendemos a melhorar nossa responsabilidade uns com os outros e com o meio ambiente. Mas melhor foi conhecer as pessoas que nos ensinão melhorar a cada dia mais, como classificar o lixo e também tomar nosas próprias atitudes, vivendo do lixo e também convivendo com diferente classe. Assim nos daremos melhores na vida. Os nosos filho ensinando a trabalhar e a respeitar as pessoas e o meio ambiente. Mas também somos gratos ao projeto que nos ensinam a trabalha nas maquinas e somo unido por uma razão de podermo nos orgulhar de nós mesmo. Oje gostaria de poder que se nós foce mais unido nós conseguiria mais do que nós imaginamos, nós não podemos parar porque o sonho continua

 

Na SD2 acompanhamos um sujeito que segue circulando pela FDC e pela FDMSP. Ele assume no discurso o panorama de mudança que se instalou na sua vida após a inserção no Projeto “Profissão Catador” e mostra a mudança, comentando sobre aquilo que aprendeu quanto às questões de responsabilidade do trabalho em associação, bem como do seu papel como protetor do meio ambiente. Há ainda explícita a divisão de classes, pois o catador relata se sentir a partir de hoje autorizado a conviver com diferentes classes, ou seja, antes não podia e agora pode. Contudo ainda admite estar em uma posição desfavorável perante os demais. O trabalhador também traz presente nesta sequência discursiva a questão da união, do cooperativismo, se encaminhando para uma nova posição, a posição-sujeito cooperativado e ambientalista (PSCA).

 



[3] A Política Nacional de Resíduos Sólidos foi instituída pela Lei 12.305 de 2010 e obriga que as prefeituras tenham em funcionamento nos municípios coleta seletiva e destinação adequada de todos os resíduos até 2014.