Do garrafeiro ao catador de materiais recicláveis: o (re) surgimento de um sujeito do projeto urbano


resumo resumo

Rubiamara Pasinatto



A PSCA está explícita no enunciado Antes do galpão [...] tínhamos uma vida razoável. Hoje [...] aprendemos a melhorar nossa responsabilidade uns com os outros e com o meio ambiente, no qual o sujeito expressa a coletividade, ou seja, a presença do outro catador na sua atividade, bem como da questão do meio ambiente. É o surgimento de um discurso marcado pelos conhecimentos que aprendeu nas oficinas do Projeto “Profissão Catador”, tanto no que tange ao aspecto da organização desses sujeitos em associação, unidos pelos mesmos propósitos, quanto pela tarefa que lhes foi designada: de serem “cuidadores” e responsáveis pelo meio ambiente. Passam a ter então, perante a comunidade uma importância ambiental.

Em tomar nosas próprias atitudes, vivendo do lixo e também convivendo com diferente classe de um lado o sujeito expressa sua autonomia, de poder autogerir sua vida e seus negócios, ocupando a posição-sujeito autônomo. Já de outro, há retomada da posição-sujeito subautônomo (PSS), evocando um interdiscurso que traz já-ditos a respeito da historicidade do ofício da catação, quanto à condição de subordinação, de viver dos restos e de limpar o que os outros sujam. Ele admite no seu discurso a fragmentação da sociedade em classes sociais e, mesmo em um lugar discursivo de trabalhador, ainda se considera inferior a outros indivíduos, assumindo então a PSS, mesmo sem se dar conta disso, pois ele não controla os sentidos do seu dizer. Assim podemos dizer que um sujeito nunca rompe definitivamente  com um determinada FD, pois mesmo inscrito na PSMPS ele ainda circula pela FDC.

E, por último, no enunciado somo unido por uma razão de podermo nos orgulhar de nós [...] poder que se nós foce mais unido[...] nós não podemos parar porque o sonho continua o catador ocupa a posição-sujeito associado (PSA), marcada no discurso pelo coletivo,  somo (nós), nós (todos). Esta indicação também é explicitada em outros fragmentos desta SD 2, comprovando que o indivíduo se inscreve a todo momento na coletividade, que implica na FDMSP.

Nesta FD do modo social de produção que é habitada por formações ideológicas que remetem à autogestão e à cooperação, acompanhamos uma reconciliação entre o trabalhador e as forças produtivas que ele detém e utiliza. A relação não é mais de separação do catador do produto do seu trabalho, agora sob seu domínio. O sujeito recupera as condições necessárias, mesmo se não suficientes para uma experiência integral de vida laboral e ascende a um novo patamar de satisfação, de atendimento a aspirações não apenas materiais ou monetárias.