Revelando o outro: fotojornalismo e representações da pobreza no sertão


resumo resumo

Thiago Manchini de Campos



imagem, sendo que tal memória é dissimulada através de uma supostaculturalização” ou “psicologizaçãodo ato fotográfico. Desde modo a hipotética objetividade/neutralidade do fotojornalismo é desconstruída, deixando de ser uma característica fundamental de sua produção pois a descrição, inerente ao ato fotográfico, se configura também como narrativa:

 

Diante desse quadro, convém perguntar porque apesar de toda esta gama de estudos acerca do estatuto representacional da imagem fotográfica, no fotojornalismo ainda persiste a convenção do instantâneo fotográfico, da foto não posada, como sinônimo de naturalidade e, consequentemente, de realismo (...) o que se considera é a verossimilhança com a realidade, aqui criada através da fotografia. Essa é a lógica do jornalismo. GUADAGNUCCI (2010, p.33)

 

Há uma inversão na racionalidade: não é o realismo fotográfico que constata fatos, mas sim a narrativa que “cria” o real, sendo que é esse efeito de “real” que encoberta o político e que legitima a fotografia tanto para o autor como para o leitor. O caráter narrativo da fotografia, no contexto do fotojornalismo, demanda a se considerar o que Susan Sontag chama de tendência estetizadora da fotografia, isto é, a produção de imagens sobre o real que, conforme já mencionamos, têm a ficcionalização como efeito e que, em última instância, opera uma redução via reificação, isto é, o sujeito da fotografia sempre é um personagem/objeto.

 

As câmeras miniaturizam a experiência, transformam a história em espetáculo. Assim como criam solidariedade, fotos subtraem solidariedade, distanciam as emoções. O realismo das fotografias cria uma confusão a respeito do real, que é (a longo prazo) moralmente analgésica bem como (a longo e a curto prazo) sensorialmente estimulante. (SONTAG, 2004, p.126).

O funcionamento da materialidade discursiva das fotografias aqui analisadas legitima uma memória de sentidos para a pobreza no sertão, incidindo diretamente ma percepção social das imagens. Através da repetição e regularização via mecanismo de paráfrase, as imagens não só significam como são também re-significadas, construindo nesse processo um roteiro de leitura que remete a outras imagens e materialidades, criando assim um lugar onde se “lê” a pobreza no sertão. A consequência direta deste funcionamento discursivo é a domesticação do olhar, mais especificamente, do olhar ocidental determinando e naturalizando a condição do outro:

 

A fotografia, que tem tantos usos narcisistas, é também um poderoso instrumento para despersonalizar nossa relação como o mundo; e os dois usos são complementares. Como um par de binóculos sem um lado certo e outro errado, a câmera torna próximas, íntimas, coisas exóticas; e coisas familiares,