Movimentos da contemporaneidade: a rua, as redes e seus desencontros


resumo resumo

Cristiane Dias
Marcos Aurélio Barbai
Greciely Cristina da Costa



os socialistas utópicos, os niilistas, os sovietes, os conselhos operários e anarquistas, os estudantes de 68, e os chamados novos movimentos sociais (feministas, ambientalistas, jovens etc.) que buscavam romper, anos 1960-1970, com o ativismo partidário ou sindical para empreender uma forma de organização horizontal, igualitária e consensual (idem, 2004, p.80). Isso em razão da luta pelo fim de todas as formas de autoridade, de hierarquia e de poder.

É interessante observar acima que black bloc não é definido como um grupo, como um partido, como uma organização política, mas como uma tática de manifestação, na qual o anonimato é primordial e a vestimenta preta permite que qualquer um se torne black bloc e ao mesmo se torne corpo de um movimento político não institucionalizado. O corpo do sujeito envolto ao traje preto garante o anonimato, ou seja, garante que aquele sujeito não seja identificado ao passo que abre espaço para a indistinção do sujeito que ali se reúne num jogo entre o visível e o invisível: um bloco negro. Enquanto a unidade de um corpo social se forma por meio do mesmo recurso, ganha visibilidade ainda que difusa: um bloco negro que se forma e se dissolve na e com a manifestação.

Nos movimentos contemporâneos, em que a rede tem um papel fundamental nas manifestações, já que é pela conectividade que elas são organizadas, os black blocs da mesma maneira aí estão, se constituindo na estrutura e funcionamento da rede, de modo informal, disperso, descentralizado, des-institucionalizado. Formam-se e se separam diante de uma demanda de protesto. Esse modo de organizar-se permite, por um lado, inicialmente, escapar da administração e do controle do Estado; por outro, a indefinição, a dispersão abre espaço para a definição que criminaliza, cujos sentidos interditam os sujeitos na rua, na manifestação, em seus gestos políticos. Os black blocs incomodam.

No Brasil[8], passam a ser definidos, e assim criminalizados, sobretudo, pelo discurso da mídia, que ao narrativizar os atos de depredação de bancos e fachadas de grandes empresas e os gestos de confronto direto com policiais, produz enquanto efeito o esvaziando do sentido político da manifestação dos black blocs. A partir daí, a violência passa a ser atribuída a eles e uma denominação aparece para rotulá-los: vândalos. Eficaz em sua opacidade, essa denominação entra em cena num lugar deixado vazio pela indistinção, pela definição flutuante, pela ausência de ligação dos black blocs



[8] Nas redes sociais encontramos páginas e grupos fechados com milhares de curtidas, seguidores e membros, tais Black Bloc Brasil, Black Bloc São Paulo, Black Bloc RJ, Black Bloc Fortaleza, Black Bloc Brasília, etc.