Revelando o outro: fotojornalismo e representações da pobreza no sertão


resumo resumo

Thiago Manchini de Campos



o “sertão”. Em última instância, o próprio ato de exibir tem o efeito de distanciar, marginalizar e segregar. Deste modo, o real da fotografia incide na realidade das imagens, atribuindo efeitos de sentido que operam no intermeio da realidade/ficção e, ao fazer isso, significam o sertão como algo que não está aqui, mas está . É o avesso da diferença “politicamente correta”: a diferença não como modo de compreender o outro, mas como mecanismo de demarcação e marginalização, sinalizando a impossibilidade de um vínculo social.

 

Conclusão

É na tensão entre a dispersão e regularidade, paráfrase e polissêmia, fato e ficção, que os dizeres sobre o sertão e pobreza vão sendo construídos. A materialidade das imagens aqui apresentadas é definida por duas memórias que conduzem o olhar. Primeiro a memória da prática do fotojornalismo, que delimita um certo leque e vocabulário de técnicas a serem adotadas; segundo a memória sobre o que é ser pobre no sertão nordestino, filiada a uma rede de discursos verbais e não-verbais que têm na falta e na religião aspectos centrais. No entremeio dessas memórias vai se delineando um espaço de interpretação configurado como narrativa, tendo como efeito principal a naturalização do indivíduo em sua posição sujeito-pobre.

Apesar de compreendermos que a fotografia pode e dever ser utilizada como instrumento de denúncia social, fica latente que há um outro lado da mesma moeda. O discurso do fotojornalismo – assim como os discursos de outras “instituições” voltadas para a imagem – opera dentro de uma matriz neoliberal, fato que acarreta um golpe nas aspirações “sociais” da fotografia: de modo a circular, imagens de pobreza, violência, catástofres, etc. são tratadas como capital, produto a ser comercializado. Esta seja talvez a grande e principal contradição do fotojornalismo que, ao se apresentar como um modo privilegiado de lutar contra as “injustiças” sociais, contríbui para com a ficcionalização e perpetualização das mesmas.

 

Referências Bibliográficas

 

AUMONT, J. A imagem. 7ªed. Trad. Estela dos Santos Abreu e Cláudio C. Santoro. Campinas, SP: Papirus, 2002.

BODSTEIN, C. Fotojornalismo e a ficcionalidade no cotidiano. Tese de Doutorado, IA. UNICAMP. 2006.