A pátria (s)em chuteiras: reescritas do Brasil na Copa das Confederações


resumo resumo

Júlia Almeida



processo de construção de uma imagem dominante do país, uma rica produção de narrativas que consideramos contra-discursivas, já que interpelavam os acontecimentos a partir de ângulos de inserção menos favoráveis (os remanejados das áreas de desapropriação, por exemplo) e que imprimiam alguma resistência ao projeto de constituição de um país sem contradições para ser apreciado do exterior. Michel Foucault que, em toda sua obra, articulou discurso e poder, salientou o lugar inelutável dos pontos de resistência nas relações e redes de saber-poder, pensando o discurso como um “jogo complexo e instável” que “veicula e produz poder; reforça-o mas também o mina, expõe, debilita e permite barrá-lo” (1985, p. 96); como discurso e contra-discurso.

Sua noção de formação discursiva, formulada no final da década de sessenta como um sistema de dispersão ou repartição do que pode ser dito, de que se podem definir regularidades entre objetos, tipos de enunciação, conceitos e escolhas temáticas (2009, p. 43) vai sendo reescrita, em anos posteriores, a partir da questão das técnicas de poder e dos discursos que o engendra ou lhe dão suporte (dispositivos de poder-saber), mas também “com o que comporta de deslocamentos e de reutilizações de fórmulas idênticas para objetivos novos” (1985, p. 96).

Pareceu-nos, então, que, para além dos dispositivos de homogeneização de uma visibilidade oficial para o Brasil no contexto da Copa, essas marcas na internet e fora dela produziam deslocamentos nos modos de se narrar o país, mais próximos de uma dissemiNação”, como Hommi Bahbha denomina a confluência de histórias e contra-narrativas que escrevem uma nação como “‘zona de instabilidade oculta’ onde reside o povo” (FANON apud BHABHA, 1990, p. 303, tradução nossa), revolvendo o terreno das manobras ideológicas pelas quais comunidades recebem identidades essencializadas.

Que essa vontade de dar a ver o “lado escuro” da preparação e realização da Copa tenha se somado a outras vontades sociais e se precipitado para as ruas, sobrepujando o efeito catártico do futebol sobre os brasileiros, não deixa de ser algo surpreendente, mesmo diante dessas marcas de insatisfação que colhemos ao longo do último ano. Nesse novo momento de dissemiNação, em que um espaço de reivindicações se constrói entre as ruas e as redes, salta aos olhos e ouvidos o modo como os brasileiros procuram se reescrever e reescrever o país, numa ampla produção e circulação de slogans e palavras de ordem, que se materializam em cartazes e coros com reverberação na internet (em manifestos, convites, fotos de cartazes etc.) e que se