Revelando o outro: fotojornalismo e representações da pobreza no sertão


resumo resumo

Thiago Manchini de Campos



forma não finita do “não-tudo”, efeito da alíngua (GADET e PÊCHEUX, 2004, p.58)

Assumir o posicionamento de que a língua – enquanto matéria significante – é política implica deixar de lidar com o sentido por um viés dicotômico para se trabalhar com a contradição e a incompletude, reconhecendo a abertura do simbólico como fato incontornável:

 

A incompletude é característica do todo processo de significação. A relação pensamento/linguagem/mundo permanece aberta, sendo a interpretação função dessa incompletude, incompletude que consideramos como uma qualidade e não um defeito: a falta, como temos dito em abundância, é também o lugar do possível na linguagem. É isto que chamamos “a abertura do simbólico”, à qual juntamos o fato de que a questão do sentido é uma questão que não se fecha pois é uma questão filosófica. (ORLANDI, 2008, p.19)

 

Apesar da reflexão que concerne à abertura do simbólico ter sido desenvolvida, em um primeiro momento, tendo a língua como objeto, o potencial do trabalho com outras materialidades significantes sempre foi latente. Tal fator se deve primordialmente a uma característica intrínseca ao aparato teórico-analítico da AD: o permitir um olhar privilegiado para o caráter simbólico, não redutivo ao linguístico[2], do funcionamento discursivo em suas especificidades. De acordo com Lagazzi (2011, p.402)

 

Não se trata de analisarmos a imagem e a fala e a musicalidade, por exemplo, como acréscimos uma da outra, mas de analisarmos as diferentes materialidades significantes uma no entremeio da outra (...) Em análises com diferentes materialidades é importante que o analista mobilize, na relação teoria-prática, as diferenças materiais, sem que as especificidades de cada materialidade significante sejam desconsideradas, cada uma fazendo trabalhar a incompletude na outra pela contradição.

 

Uma consequência ao se trabalhar com a abertura do simbólico reside na noção de texto promovida por Orlandi, fundamentada na afirmação de que a constituição e formulação do discurso pode ser pensada a partir de dois eixos: o interdiscursivo, de dimensão vertical, e o intradiscursivo, de dimensão horizontal, sendo que todo dizer se dá no cruzamento desses dois eixos. “Sendo atualização da memória discursiva, a formulação se faz materialmente pela colocação do discurso em texto, pela textualização”. (ORLANDI, 2008, p.11). Desse modo

 



[2] Por “linguístico” remetemos aqui à noção strictu sensu do termo.  É importante mencionar que um dos pontos nevrálgicos na formulação da AD diz respeito à “inclusão” do sujeito e da história no objeto “língua”, questionando assim um dos efeitos do corte saussureano que contempla uma suposta autonomia da mesma. A AD postula que a língua se configura em um sistema de autonomia relativa, sendo que a exterioridade passa, efetivamente, a ser compreendida como parte constituinte do sistema linguístico. Desse ponto de vista não é sustentável conceber uma divisão entre linguístico/extralinguístico face ao objeto discurso.