A urbanização de Campinas/SP e a produção de informação nas maiores ocupações da cidade


resumo resumo

Helena Rizzatti



em atos de resistência” (CHAUÍ, 1987, p.63); enquanto as contra-racionalidades se tratam de novos usos dados aos objetos e ao uso do território pela população de baixa renda que, para sobreviver, precisa criar racionalidades paralelas ao sistema que se divergem e se convergem simultaneamente[1].

As ocupações de terras urbanas, cada vez mais presentes nas metrópoles e grandes cidades do Brasil, a partir do início dos anos 1980 (RODRIGUES, 1988), são manifestações do processo de urbanização corporativa em andamento no país e da capacidade das contra-racionalidades e resistências orquestradas pelos agentes não-hegemônicos desse processo. Entendemos as ocupações urbanas como a rápida ação de construção de moradias, em terrenos privados e públicos dentro do perímetro urbano, pela população de baixa renda e possível devido a um planejamento prévio para escolha do local, do momento e da forma como ocorrerá a ocupação, assim como, para construí-la e para mantê-la possibilitando um novo uso do espaço urbano (idem). Esta forma de habitação na cidade se diferencia das favelas, pois estas costumam ocorrer de modo individual e mais lento com a chegada esparsa de famílias de baixa renda que constroem seus barracos para viver sem exigir um planejamento prévio da ação (idem). De acordo com estudo de Jacobi (1982, p.69)

 

As invasões [ocupações de terra urbana] tocaram fundo nas raízes da sustentação do sistema econômico e político vigente, pois mexeram com a questão da propriedade privada, tornando aludível mudanças na legislação do uso da terra e colocaram em pauta dois temas contrapostos: o de direito à habitação e o do direito à propriedade. A visão clássica assegura ao proprietário o direito de usufruto da propriedade e sob essa ótica as ocupações representam violação grave. Entretanto, as inaceitáveis condições de vida dos pobres das cidades, que um sistema socialmente desigual não fez senão acentuar, modificam o enfoque da questão.

 

Hoje, Campinas está entre as quinze cidades brasileiras com maior número absoluto de população residente em favelas e ocupações (IBGE, 2011). Configura-se um espaço urbano que abriga as modernizações, mas incapaz de responder às necessidades de grande parte da sua população e, desse modo, reprodutor de uma pobreza estrutural (SANTOS, 2000b). Essa desigualdade socioespacial permite compreender a existência de

 



[1] Nas palavras de Santos (1996, p. 246) “Essas contra-racionalidades se localizam, de um ponto de vista social, entre os pobres, os migrantes, os excluídos, as minorias; de um ponto de vista econômico, entre as atividades marginais, tradicional ou recentemente marginalizadas; e, de um ponto de vista geográfico, nas áreas menos modernas e mais ‘opacas’, tornadas irracionais para usos hegemônicos. [...]. O que muitos consideram, adjetivamente, como ‘irracionalidade’ e, dialeticamente, como ‘contra-racionalidade’, constitui, na verdade, e substancialmente, outras formas de racionalidade, racionalidades paralelas, divergentes e convergentes ao mesmo tempo”.